"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Leo Mendes conta porque deixou o PT

  

 Após 26 anos de intensa militância, o professor Leônidas Mendes Filho, conhecido como Leo Mendes deixa o partido dos Trabalhadores. Sua carta pedindo a desfiliação, seguida de um manifesto causou grande alvoroço no partido, bem como na comunidade política da cidade, entretanto, quem conviveu mais de perto com o educador sabia que ele não estava satisfeito com os rumos tomados pelo partido e mais especificamente com a administração municipal. Nessa entrevista, ele conta porque deixou o PT.

HOJE – Após 26 anos de luta no Partido dos Trabalhadores, o que o levou a deixar o partido?

Leo Mendes – Na verdade a reflexão sobre a minha saída não foi construída de uma hora para outra, ou mesmo após as prévias, das quais eu participei como pré-candidato a prefeito e obtive 97 votos de uma universo de quase 500. As prévias representaram um retardamento de uma decisão que já estava sendo amadurecida. As prévias eram uma esperança de que o PT de Parauapebas inaugurasse uma nova prática, uma nova base de relacionamento com a militância que foi estragada durante esses oito anos de mandato do PT e uma prova disso foi quando o PT de Parauapebas, contrariando todas as decisões das instancias superiores partidárias decidiu terceirizar a Saúde do município, contratando uma Oscip, sem uma prévia discussão com a sociedade, sem uma prévia  autorização orçamentária e com a conivência dos nossos quatro vereadores, que inclusive desobedeceram uma decisão da instância local. Naquele momento eu já tinha o objetivo de deixar  o partido, mas, vieram as prévias  e a gente esperou mais um pouco, porque  tentamos fazer com que o partido refletisse sobre os caminhos que ele estava trilhando e repensasse as suas práticas governamentais. Depois veio essa esquisita aliança com o PMDB, não pelo PMDB em sí, mas porque ela foi urdida em Belém, sem ficar claro se ela representava algum projeto. A prática do PT era de que em decisões desse tipo requereriam um debate amadurecido, o que não aconteceu. Como toda a cidade de Parauapebas, os filiados do PT tomaram conhecimento pelos blogs dessa aliança negociada em um hotel em Belém e segundo eu entendo, o grande beneficiário é uma suposto candidato a governador do PMDB para 2014. Por essas e outras, a minha decisão foi dolorida, mas necessária de deixar o partido.

HOJE -  E a reação dentro do partido?

Leo Mendes – Os  meus amigos mais chegados e alguns companheiros da tendência Articulação de Esquerda já sabiam da minha insatisfação com o modo ultracentralizado com que  o governo é conduzido e com o descaso absoluto da coisa pública, com raríssimas exceções, talvez  apenas para confirmar a regra. Os companheiros sabiam da decisão que seria tomada, mas tive que me recolher e passei uma semana construindo o manifesto que  foi divulgado. Alguns amigos, que conheciam as minhas inquietações, me apoiaram, outros estão lá por um motivo ou outro e chegam a me ligar para me apoiar, mas, eu não posso expor os companheiros.

HOJE – Você acha que o PT de Parauapebas precisa se reciclar?
Leo Mendes – O PT local precisa de uma renovação total. Um bom exemplo disso foi o que ocorreu na decisão do número de vagas para a Câmara de Parauapebas. O PT tinha o dever moral, democrático e politico de defender o maior número de vereadores. Somos uma cidade complexa de 200 mil aproximadamente, precisávamos do número máximo e o  PT se acovardou, se curvou aos interesses que não eram do PT, votou por um número irrisório, que  baixa representatividade num interesse egoísta, no sentido mais tacanho, porque  não pensou no aumento da representatividade, não pensou na ampliação da democracia, que elegeria 19 representantes, porque acreditava que votando no menor número ficariam apenas os grandes partidos, excluindo dos debates democráticos, os pequenos partidos, como se a democracia fosse a ditadura da maioria e não a garantia de representação da minoria. A democracia é acima de tudo a garantia de que as minorias terão voz. O PT por ser a maior bancada, por ter quatro vereadores na Câmara tinha o dever político e moral de ter votado diferente. O PT precisa se renovar seus métodos da democracia partidária. Peço desculpas porque já que estou fora não deveria está falando da casa que abandonei, mas, é a minha opinião, já era antes e agora mais ainda, porque vejo melhor de fora. O PT precisa melhorar o debate com a militância e não repetir os erros de impor à militância interesses como essa aliança com o PMDB. Há dois meses, a militância achava essa aliança espúria. Numa reunião na calada da noite, na surdina, apareceu essa aliança, sob o pretexto que era melhor para Parauapebas. Melhor em quê? Vão agora depois de 16 anos resolver o problema da água? A mesma coisa digo do parlamento e quem votou pelas 15 vagas está arrependido porque viu que fez a coisa errada.    

HOJE -  Você pretende se  afastar da política?
 

Leo Mendes – Enquanto cidadão, enquanto ser político e para mim  ser cidadão é viver na cidade, ser político no conceito grego da poli não posso me dar  o luxo de me afastar, seria cômodo demais. Continuo conversando com muitos amigos, inclusive dentro do PT e não ficarei neutro, escolherei um caminho que em breve será anunciado, porque  está sendo amadurecido. Temos que oferecer uma nova perspectiva para a cidade, na ótica de que o novo sempre vem. Devo apoiar um nove que represente verdadeiramente uma mudança para Parauapebas.

HOJE – Nada de fugir da raia?
Leo Mendes – Nunca, jamais, não posso me dar esse luxo. A gente vem construindo a liderança desde o momento que a gente e chegou na cidade. Foi assim na questão da UNIFESSPA, que é uma bandeira e em outras lutas sociais. Sou um professor que quer ver a educação de Parauapebas melhor, quero oferecer alternativas para a juventude. Não ficarei em silêncio, e desatando as amarras que me ligavam há 26 anos.

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