"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


terça-feira, 25 de outubro de 2016

Artigo - Pérola inesperada



Diz o provérbio que de onde não se espera não costuma acontecer grandes coisas, mas, hoje não foi o que aconteceu. Numa fila de banco encontrei um jovem que me cumprimentou educadamente, perguntando pelos meus filhos. Logo, logo o assunto rodou para a política próximo-passada, "Não me foi favorável, mas já esperava”,  respondi-lhe, enquanto puxava pela memória, na tentativa inútil de identificá-lo.

Com a confiança dos que sabem que tem o mundo e a vida inteira pela frente, o recém-saído da adolescência flutuava por um monte de assuntos freneticamente. Ia desde o cotidiano da cidade, amenidades e política. Alias, quando o assunto desandou pra política, pude verificar um real interesse, ou seja, não era uma conversa pra passar o tempo, enquanto aguardava a vez de ser entendido. 

Desisti de tentar adivinhar quem era o moço (mais tarde descobrir que era filho do amigo Léo da Cervebrás). Para meus botões me penitenciei por não tê-lo reconhecido, entretanto, creditei o lapso às minhas costumeiras ocupações e ao fato de ser mau fisionomista. 

Seria apenas uma conversa trivial, com um jovem estudioso das coisas da sua cidade, entretanto, a estrutura pessoal, o acervo de conhecimentos que aflorou, haveria de me mostrar que mesmo sem eu esperar, havia vida naquela conversa. Pra uma geração considerada pra lá de tubaína, que passa os dias e as noites com a cara enfiada num PC, atolada até a raiz do cabelo nas futilidades das redes sociais, querer saber sobre os destinos do município, as recentes incursões da Justiças sobre a classe política da cidade e resultado das urnas na eleição de 02 de outubro era um alento considerável.

A perola inesperada saiu quando eu disse que a sociedade não admitiria ser escamoteada, vilipendiada, como em épocas passadas e isso era um alento, algo a ser comemorado. “Engana-se, a sociedade continua a mesma, pronta pra vender o voto por 30 moedas de prata, haja vista a quantidade de vereadores eleitos pela força da grana, sem qualquer base programática”, disse. Para ele, o que se vê de alvissareiro hoje em dia é a atuação do Judiciário que na falta de uma triagem por parte da sociedade, resolve intervir e fechar a porta para a corrupção, afastando vereadores e investigando as ações do Legislativo e do Executivo.

Quem diria, 21 anos, se tanto e uma verdade nua, de difícil absorção colocada na mesa. Acho que a cidade precisa de outras verdades como essa.

Porque tem verdade que é para ser dita.




2 comentários:

Antônio Paranhos disse...

Muito bom o artigo. Parabéns

Anônimo disse...

Enquanto a gente ter eleitores que vendem o voto, a gente vai ter governantes mediocres