Diz o provérbio que de onde não se espera não costuma acontecer grandes
coisas, mas, hoje não foi o que aconteceu. Numa fila de banco encontrei um
jovem que me cumprimentou educadamente, perguntando pelos meus filhos. Logo,
logo o assunto rodou para a política próximo-passada, "Não me foi
favorável, mas já esperava”, respondi-lhe, enquanto puxava pela memória, na
tentativa inútil de identificá-lo.
Com a confiança dos que sabem que tem o mundo e a vida inteira
pela frente, o recém-saído da adolescência flutuava por um monte de
assuntos freneticamente. Ia desde o cotidiano da cidade, amenidades e política.
Alias, quando o assunto desandou pra política, pude verificar um real
interesse, ou seja, não era uma conversa pra passar o tempo, enquanto aguardava
a vez de ser entendido.
Desisti de tentar adivinhar quem era o moço (mais tarde descobrir
que era filho do amigo Léo da Cervebrás). Para meus botões me penitenciei por
não tê-lo reconhecido, entretanto, creditei o lapso às minhas costumeiras ocupações
e ao fato de ser mau fisionomista.
Seria apenas uma conversa trivial, com um jovem estudioso das
coisas da sua cidade, entretanto, a estrutura pessoal, o acervo de
conhecimentos que aflorou, haveria de me mostrar que mesmo sem eu esperar, havia
vida naquela conversa. Pra uma geração considerada pra lá de tubaína, que passa
os dias e as noites com a cara enfiada num PC, atolada até a raiz do cabelo nas
futilidades das redes sociais, querer saber sobre os destinos do município, as
recentes incursões da Justiças sobre a classe política da cidade e resultado
das urnas na eleição de 02 de outubro era um alento considerável.
A perola inesperada saiu quando eu disse que a sociedade não
admitiria ser escamoteada, vilipendiada, como em épocas passadas e isso era um
alento, algo a ser comemorado. “Engana-se, a sociedade continua a mesma, pronta
pra vender o voto por 30 moedas de prata, haja vista a quantidade de vereadores
eleitos pela força da grana, sem qualquer base programática”, disse. Para ele,
o que se vê de alvissareiro hoje em dia é a atuação do Judiciário que na falta
de uma triagem por parte da sociedade, resolve intervir e fechar a porta para a
corrupção, afastando vereadores e investigando as ações do Legislativo e do
Executivo.
Quem diria, 21 anos, se tanto e uma verdade nua, de difícil absorção
colocada na mesa. Acho que a cidade precisa de outras verdades como essa.
Porque tem verdade que é para ser dita.
2 comentários:
Muito bom o artigo. Parabéns
Enquanto a gente ter eleitores que vendem o voto, a gente vai ter governantes mediocres
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