Eldan Nato
Após ver os sinceros depoimentos de Lucinha Bastos, Dina Oliveira e Luiz Braga, na campanha das ORM intitulada "Pará eu te quero grande", os quais transcrevo logo no final deste artigo, fiz meus questionamentos sobre a campanha e sobre o assunto de modo geral.
Não quero questionar os interesses individuais de pessoas simples e de outras (famosas) em ter o Pará "grande", mas existem questões mais profundas do que o simples "orgulho nacional" estadual (se é que me entendem) em pauta, sobre as quais cabem colocações que eu entendo serem pertinentes.
Analisando a página da campanha (aqui), verifiquei que os números do banner título, refletem bem o que representa o Pará hoje : verifica-se um certo desenvolvimento da região metropolitana em detrimento do descaso, que só quem vive na região dos Estados a serem desmembrados sabe. Senão vejamos : com uma população, hoje, de pouco menos de 7,5 milhões, o Pará passaria a ter 4,7 milhões de habitantes, o que representa 64% da população atual. Se compararmos isto à área remanescente, que seria de 244.830 Km² - 19,5% dos atuais 1.253.164 Km² - percebemos que, mesmo ficando apenas com menos de 20% do território atual, o Pará continuaria grande, pois um Estado se faz com as pessoas que nele habitam e trabalham, e que o fazem prosperar.
Dizer que o Pará ficaria pequeno é dizer que o paraense (« da gema amarela » como se auto-intitula a artista plástica Dina Oliveira, em seu depoimento) não é capaz de produzir e tocar o Estado, que ficaria com a grande parte da infa-estrutura. Para comprovar é só comparar a região norte/nordeste com o restante do Pará, pra ver onde está o desenvolvimento neste sentido. As melhores estradas, o melhor aparato de segurança, de transportes, a melhor cobertura de educação, saúde, e de saneamento básico, entre outros.
Considero que os investimentos na região onde está instalada a grande parte da população devem naturalmente ser maiores, no entanto, cabe aquele questionamento existencial que é sempre representado pelo ovo e pela galinha: a infra-estrutura é melhor na região metropolitana porque está ali a maioria dos paraenses? ou a maioria dos paraenses está ali por causa da melhor infra-estrutura? Para responder a questão precisamos buscar os arquivos da história e descobrir que o ambiente "inóspito e selvagem" do interior do Estado nunca exerceu atração pelos paraenses da gema, amarela, digamos.
O site em que as ORM chama a atenção para o debate traz uma lista de "perdas" que o Pará teria ao permitir o desmembramento do Carajás e do Tapajós. O primeiro ítem é o seguinte: "O PIB do Pará cairá de quase R$ 50 bilhões para R$ 29 bilhões". Ora, então vejamos, mesmo ficando sem 80% do seu território atual e sem 35% da sua população, o Pará ainda manteria 58% do PIB atual? Não é tão mal assim, não é? Carajás e Tapajós teriam que se contentar em dividir os outros 42% do PIB remanescente.
Neste momento os que pregam a inviabilidade dos dois novos Estados se ascendem : "Égua! Tá vendo? Menos da metade do PIB paraense atual para as duas novas federações? Não é pouco?" Seria. Se o potencial produtivo e as possibilidades de desenvolvimento destas regiões, tendo um governo administrativamente próximo e ciente das necessidades do povo, não viabilizassem o projeto.
Ainda falando sobre o PIB, compará-lo em posição de ranking a outros Estados, dizendo, por exemplo, que será menor do que o PIB do Maranhão e também do Amazonas é apenas uma estratégia para mexer no orgulho do paraense. A tendência é do que está ocorrendo no Pará também acontecer em outras federações, e os Estados do Maranhão e Amazonas também podem se subdividir em novos estados. E o site informa que o PIB paraense "deixará de ser o MAIOR PIB do Norte", apenas. Não é o fim do mundo.
A defesa do Pará "grande" começa a ganhar tons de patriotismo colonial, como se a disputa fosse afetar algo além do orgulho paraense. Como se o desmembramento tornasse paraenses inimigos de Carajaenses e Tapajoenses. Como se a vida dos paraenses metropolitanos fosse mudar tanto assim. Apelando para o "orgulho paraense" a campanha dos Maiorana apenas evidencia seus interesses e daqueles que eles representam, em ter sempre nas regiões "coloniais" um abastecedor de primeira grandeza, que tenha recursos primários de qualidade e que possa contribuir para os números do "Pará grande", como por exemplo, tendo cidades (que sem o poio do Estado) conseguem ter um bom Índice de Desenvolvimento Humano.
Nos orgulhamos pelas esquinas de ter um Parazão que possui treze bacias hidrográficas?
Sentimos orgulho de nossas hidrelétricas, quando temos uma das energias mais caras do país?
Batemos no peito porque a região desflorestada do Estado é de apenas 17,5%? "Apenas", em plena Amazônia?
Nos sentimos bem porque o PIB do Estado é o maior da região Norte?
Ou o que ouvimos nas esquinas, na imprensa, na internet, são os comentários de o quanto a saúde vai mal, a educação está sem qualidade, com professores mal remunerados, e o trânsito e as estradas (principalmente nas regiões longínquas do Estado) estão um caos?
É o governo atual? Ou são problemas de décadas, quiçá, séculos? E o que adianta ser o Estado que mais contribui com a balança comercial na região? O que adianta ter orgulho de bater no peito que o "meu Pará é grande" e essa grandeza não se refletir no bem-estar do seu povo? Até os da gema amarela?
Todos estes números só comprovam a ineficácia de ter um Estado da Federação tão grande, incapaz de ser administrado equitativamente para todo o seu povo, muito pela corrupção, muito pela inoperância dos que se propõem a governar e acabam desgovernando, mas, muito mais exatamente pela grandeza da sua extensão territorial – datada do Brasil Colônia e que não se encaixa no perfil atual da região – dificultando controles, fiscalizações, ações governamentais, acompanhamento de programas, etc.
O que o paraense precisa ter em mente é que, se atualmente, toda esta região que compreende-se por Pará é rica, ela continuará sendo rica, e talvez ainda mais do que é hoje. A mudança que ocorrerá é muito mais estrutural e administrativa do que econômica. Os reflexos econômicos com certeza acontecerão e serão muito perceptíveis, mas para melhor, no longo prazo, inclusive para o novo Pará. Alguns paraenses também podem, achando que a região de Carajás, por exemplo, é tão promissora, e que é uma perda considerável, vir ajudar a construir o novo Estado e fazer parte deste novo momento, desta nova história.
Carajás, eu te quero ver nascer! Apesar de dizerem que será apenas para alimentar mais a fome dos corruptos, eu acredito no teu fututo, pois no teu seio também existem muitos que guardam a ética e o decoro como princípios fundamentais. Apesar de dizerem que você nascerá fracassado eu acredito que você será vigoroso! Apesar de dizerem que o Estado do Pará se tornará pequeno, acredito que você, cuidando de si mesmo, favorecerá um crescimento e um desenvolvimento muito mais robusto do Estado-mãe, que de fato já existe, e que já se tornou um "novo" Pará, o Pará de sempre, distante dos filhos que gerou, e que agora alguns querem os impedir de nascer.
Mande um e-mail para o Deputado Federal em quem você votou e diga a ele que você é a favor do nascimento de Carajás. Que você é a favor do plebiscito para a criação do nosso Estado, que será bom para o Pará e que será melhor para o Brasil. Quer saber onde encontrar os e-mails e telefones dos deputados paraenses? Que tal aqui?
(transcrito do Blog do Eldan Nato)
sábado, 10 de abril de 2010
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