"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A ebulição da rua do Meio

Hoje a rua do Meio, está bem mais comportada, atende pelo pomposo nome de rua Fortaleza, é bem urbanizada e lembra muito pouco o barril de pólvora do início dos anos 80. A bem da verdade, além das notícias de tráfico de drogas, tudo é muito calmo por lá.

Nos tempos da implantação do projeto Carajás, a rua chegava a ter o tráfego de veículos interrompido, tamanha a quantidade de pessoas que se acotovelavam por lá nos finais de semana. Pelo logradouro transitavam cafetões (gente boa e considerada na cidade já tocaram cabaré na rua do Meio); malandros à espreita dos desavisados e incautos; bêbados a mendigar um trago; comerciantes de produtos do Paraguai vendendo calça fiurucci e toca-fita Rod star; mulheres de vida fácil, que a bem da verdade davam um duro danado para faturar algum.

Além da fantasia, muitas vezes a rua revelava o seu lado mais tráfico e cruel. Muitas vezes, o camarada descia da serra em busca de diversão, de uma birita, de um par de braços macios pra se aninhar e voltava numa urna lacrada para o local de origem. Era o mundo cão que dava as caras, em forma de assalto ou de um simples acerto de contas, ou em caos de cachaça explícita.

Naqueles idos Parauapebas não passava de um amontoado de barracos na beira da PA-275, recém-construída. Com o asfaltamento da rodovia, as distancias encurtaram e a localidade ganhou milhares de novos moradores, principalmente o Rio Verde, que naquela altura se resumia a três a quatro ruas, todas em estado inicial.

Em meio a farra geral, característica de trabalhadores solteiros que vão pra bagaceira, os ônibus da Transbrasiliana aportavam na Rua do Goró e despejavam as almas desassossegadas e prontas para encher as algibeiras das damas da noite.

No mês seguinte fariam neovamente o mesmo itinerário, rumo a rua do Meio, para retornarem ao projeto, sem um caraminguado no bolso, mas cheios de boas histórias para contar.

Edinalva, Maria da bundona, Raimundona, povoaram as fantasias de muitos peões, aliás, Maria da bundona foi pedida em casamento muitas vezes, mas nunca aceitou; preferia a vida efervescente da função. Dizem que ela no final morreu no garimpo, acometida de malária. Que nem Maria, tiveram muitas, assim como os magotes que chegavam mortos de pobres e dentro de pouco tempo estavam estabelecidos, com casa e tudo. Muitas vezes buscavam a mulher no frevo e muitas se revelavam excelentes donas-de-casa.

Eram outros tempos, tempos nos quais ‘escreve não leu, o pau comeu’.

(Artigo publicado no jornal HOJE - 434 - Coluna do Marcel)

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