Stuart Grudgings, Reuters
Já se tornou um ritual nas manhãs de sábado durante a atual corrida presidencial -funcionários dos partidos e jornalistas correm às bancas para verem se, desta vez, a edição da revista Veja derruba a candidata Dilma Rousseff (PT).
Com sua capacidade para fazer ataques, a revista mais lida do Brasil -que já divulgou dois escândalos de corrupção que afetaram Dilma- parece ser o último grande trunfo da oposição, numa disputa em que a candidata governista chega à penúltima semana ampliando sua vantagem na dianteira das pesquisas.
Alguns analistas políticos descrevem a corrida em termos de quantas capas da Veja faltam para a eleição: duas.
A incansável campanha da publicação contra Dilma é um sinal daquilo que alguns dizem ser uma profunda tendência da mídia brasileira contra o PT e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro presidente brasileiro egresso da classe operária.
O esquerdista Lula tem a aprovação de 80 por cento dos brasileiros e é muito elogiado no exterior pela trajetória que fez o ex-operário virar um presidente que tirou milhões de pessoas da miséria. Mas isso não impede que sua relação com a imprensa brasileira esteja desgastada.
"Há uma revista cujo nome eu não lembro. Ela destila ódio e mentiras," disse Lula em setembro num comício, em um dos seus muitos ataques à imprensa durante esta campanha, em que ele acusa alguns veículos de comunicação de agirem como partidos políticos.
Membros do PT admitem que a irritação de Lula com a imprensa pode ser contraproducente, e que talvez tenha até custado votos a Dilma no primeiro turno. Mas as pesquisas ainda a apontam como favorita no segundo turno, no dia 31, depois da aparente perda de fôlego na recuperação da candidatura de José Serra (PSDB).
Embora a Veja tenha uma orientação clara, suas reportagens têm se provado corretas, e resultaram na demissão de Erenice Guerra, ex-braço-direito de Dilma, do Ministério da Casa Civil após denúncia de envolvimento num suposto esquema de corrupção.
Os grandes grupos da imprensa dizem que as críticas de Lula têm ido longe demais e citam seu direito constitucional à liberdade de imprensa. A antiga desconfiança da grande imprensa de que o PT gostaria de restringir a liberdade de imprensa foi alimentada, no começo da campanha, quando um documento do partido -depois retirado às pressas- sugeria propostas por um maior controle sobre a mídia.
"Acho que essa tensão entre mídia e poder é normal -basta ver o presidente (dos EUA, Barack) Obama e a Fox News," disse Ricardo Pedreira, presidente da Associação Nacional de Jornais.
(Comentário do Noblat - Dirigi a redação do Correio Braziliense entre 1994 e 2002. Atravessei dois governos locais - o de Cristovam Buarque, do PT, e o de Joaquim Roriz, do PMDB.
No primeiro, houve um momento em que até José Dirceu, presidente nacional do PT, baixou o pau no Correio, acusou-o de favorecer Roriz e sugeriu a Cristovam, publicamente, que o "comprasse". Em outras palavras: que o subornasse.
Desde sua fundação que o Correio havia sido um jornal chapa branca. Vendia até editoriais. Até que mudou por orientação do seu presidente, o jornalista Paulo Cabral de Araújo.
No governo Roriz, o Correio foi acusado de favorecer o PT. Em discurso numa solenidade, o próprio Roriz sugeriu que os leitores boicotassem o jornal. Os grandes anunciantes ligados ao governo começaram a anunciar menos. Alguns simplesmente deixaram de anunciar.
Forçado por seus colegas de diretoria, logo depois do segundo turno da eleição de 2002, Paulo Cabral deixou a presidência do jornal. Saí com ele. O jornal voltou para o colo de Roriz. Nunca faturou tanto como no ano seguinte.
Os políticos, de todas as tendências, se dizem a favor da liberdade da imprensa. Desde que ela não machuque seus calos.
Liberdade de imprensa não é direito da imprensa, dos seus proprietários, dos seus empregados. É direito dos cidadãos. Está escrito na Constituição.
A imprensa não existe para ser boa, mas para ser livre. Do contrário não serve à sociedade.
Qualquer pessoa pode deixar de ler um jornal ou uma revista. Pode trocar de canal de rádio ou de televisão. Essa é a maneira mais democrática de se exercer o que chamam de "controle social da mídia".)
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