"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Socialismo de araque

- E aí, mano, é Dilma?
- Não, dessa vez voto no Serra.

Do outro lado da linha, por muito pouco o mano não deu um piripaque. Para ele, qualquer pessoa da família poderia fazer a afirmação, menos eu, que era considerado de formação socialista e nos idos dos anos 80 sempre votava no PT de Lula.

Pois é, era mais ou menos assim: enquanto a galera de casa morria de medo do desconhecido e das novas alternativas que a abertura política oferecia, eu votava e pedia votos para o PT de Lula. Em 89 eles votavam e se decepcionaram com Collor de Melo, mas continuaram optando pelos conservadores. Considerado à frente daqueles tempos, cujos resquícios da ditadura ainda estavam bem vivos na memória, eu votava em Lula e em outros candidatos do PT, PSB e por aí afora.

Mesmo sabendo que tudo nesse mundo é transitório, inclusive as convicções políticas, ou melhor, as convicções partidárias, a minha informação soou como heresia sem tamanho. Imagine você, um camarada acostumado a ser do contra, anunciar um voto tido e havido como conservador

Com a convicção de que não iria me fazer entender de primeira, argumentei que as velhas bandeiras de boa parte da esquerda tinham sido jogadas na lata do lixo. Práticas tidas como exclusivas dos partidos conservadores, ao longo do tempo foram incorporadas no comportamento da esquerda e mais exatamente, no PT. A corrupção desenfreada no governo Lula, que desde o primeiro ano conviveu com mensalão, dólares na cueca, devassa no sigilo bancário dos adversários do partido, tentativa de acabar com a liberdade de imprensa, corrupção na Casa Civil, com a Eurenice Guerra, braço direito de Dilma Rousseff transformando a ante sala da presidência da república num balcão de negócios escusos, e a conhecida lavagem de mãos do presidente Lula, herdada por Dilma, que disse com todas as letras que não sabia das maracutaias da amiga e lugar-tenente fizeram-me descrer de tudo. A bem da verdade, o socialismo de araque, pregado pelas agremiações políticas, no qual uma meia dúzia se dá bem, às custas do sacrifício de muitos é um engodo que há 90 anos sobrevive a duras penas.

Não sei se erro ao me colocar alguns passos a frente da parentela, mas vejo que o verdadeiro socialismo está muito mais dentro de cada um do que nos diretrizes de agremiações políticas. Não é pra cartar, não, mas eu sou muito mais o meu socialismo do que o de muitos “vagabas” que andam por aí, fuçando na podridão do submundo da política.

Artigo publicado no jornal HOJE, 433 - Coluna do Marcel

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