"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


sábado, 24 de outubro de 2009

Política local de ponta cabeça com a filiação de Fontana no PMDB

Ainda repercutem na cidade as últimas movimentações políticas, ocorridas um pouco antes do dia 02 de outubro, data-limite para as mudanças de partidos dos pretensos candidatos às eleições de 2010.

Nas rodadas políticas da cidade já se antevia um cenário modificado. Já se sabia, por exemplo, que o empresário Valmir Mariano, o “Valmir da Integral” dificilmente permaneceria no PTB, já que sua liderança sempre foi contestada pela influência do vereador Antônio Massud. Na última hora, Valmir optou pelo PDT.

Sem alarde, outras transferências também aconteceram. Rui Hidelbrando deixou o PTN (o partido da vassoura, lembra?) e foi para o PRB. O mesmo destino teve o dentista Charles Borges, que rompeu com o PT e também se filiou no PRB. Ambos devem ser candidatos a deputado estadual. O médico oftalmologista Hipólito Reis, que militou no PMDB durante muitos anos bateu asas e agora está no PSC. Depois de muitos ensaios no mundo da política, Hipólito pode ser uma das novidades, assim o médico José Roberto, que se filiou no PV e deve ser candidato a deputado estadual. O fator João Fontana - Apesar de essas mudanças serem significativas e mexerem com o tabuleiro do xadrez político da terrinha, nada pode ser comparado à filiação do secretário de Obras, João Fontana ao PMDB. As implicações da transferência de Fontana ao PMDB não devem ser consideradas pela capilaridade eleitoral do secretário de Obras, já que ele nunca concorreu a nenhuma eleição e sempre foi uma figura de bastidores, de atuar nas sombras.

Genialidade ou casualidade

O que representará isso tudo só o tempo dirá, entretanto, outras perguntas são mais para o presente. Teria sido uma jogada de mestre, ou um tiro no pé? Um toque de genialidade, ou um tremendo golpe de casualidade? Ainda que Fontana tenha anunciado uma futura candidatura a deputado federal, as análises devem ser feitas partindo de importante pressuposto: de que Fontana foi para o PMDB a mando, ou sob orientação do seu padrinho político e chefe, o prefeito Darci Lermen. A partir daí, abre-se a temporada de suposições, análises, leituras políticas e até de teorias conspiratórias. As hipóteses se multiplicam, algumas tão fora de propósito que é custoso lhes dar alguma atenção.
2004, o início da aliança


A primeira situação confirmada é a aliança da deputada Bel Mesquita e o prefeito Darci Lermen. Essas aliança foi costurada um pouco antes da eleição de 2004, quando Bel escalou seu ex-marido, Faisal Salmem (hoje vereador) para perder a eleição para o candidato do PT, Darci Lermen. Quem atuou na coordenação garante que nunca se viu uma c ampanha tão pra baixo (igual a dela própria em 2008). Convém lembrar que um dos financiadores da campanha de Darci em 2004 foi um empresário, proprietário de uma rede de restaurantes muito conhecidos e ligado ao grupo de Bel Mesquita. A ida de Fontana para o PMDB seria a materialização do acordo e do apoio de Darci a Bel já em 2010. Seria por assim dizer a apresentação da fatura de 2004 e de 2008, quando Faisal e Bel concorreram de mentirinha (Faisal sem saber). Para o PMDB de Bel seria a junção da fone com a vontade de comer. Muito forte em outros tempos, hoje em dia a deputada dá sinais evidentes de decadência. Não dispõe mais de um grupo consistente e numeroso, capaz de alavancar uma eventual candidatura a deputada, muito dispendiosa, de modo que utilizar a estrutura do PT seria um presente do céu. O que o PT ganharia com isso? Aparentemente nada e aí entra a hipótese que ganha corpo no meio petista, de que Darci não tem a menor pretensão de eleger Milton Zimmer, pela simples razão de que não interessa a ele, Darci, fomentar uma nova liderança, que o suplantaria com facilidade nas prévias e nas convenções do partido, que a bem da verdade nunca morreu de amores por ele e vice-versa. Só para lembrar, nas eleições de 2008, Darci foi buscar sua vaga de candidato a prefeito na última hora e na bacia das almas. É consenso geral que uma nova liderança petista, com mandato inviabilizaria para sempre uma idicação a Darci. Para os históricos do partido está tudo muito claro. A estratégia é enfraquecer Milton, porque não há interesse em fomentar nenhuma nova liderança no partido.

Bel, vice de Ana Júlia?


Uma hipótese acalentada pela turma do PMDB é que a aproximação de Bel e Darci possibilitaria a indicação da deputada a vice na chapa de Ana Júlia mo ano que vem. Bel seria a liderança do sul do Pará que daria fôlego a campanha raquítica da governadora, que vai em busca de mais um mandato. Essa suposição não se sustenta, quando se sabe que o PMDB está firme na viabilização de uma candidatura majoritária e inclusive as conversas com o Democratas para uma futura coligação estão bem adiantadas. A princípio o nome seria o de Jáder Barbalho, mas, o partido pode vir novamente de Priante ou de Helder Barbalho, filho de Jáder. O objetivo do partido seria a passagem para o segundo turno, já que há a tendência do PT é apoiá-lo, caso a disputa seja com o PSDB. Se a disputa do segundo turno envolvesse PMDB x PT, o PSDB apoiaria o PMDB porque não há nenhuma chance de acordo com o PT. Em última análise se o PMDB não fosse para o segundo turno, ainda assim decidiria a eleição como aconteceu em 2006, quando o seu apoio possibilitou a vitória de Ana Júlia. Como se vê o PMDB tem muitas alternativas para escolher um lado no começinho do jogo.

Outra suposição que tem tomado corpo dá conta que o apoio é bem mais especifico do que se imagina e tem como objetivo a aprovação das contas do prefeito Darci. Com o desmando, as irresponsabilidades administrativas e a arte de fazer o dinheiro público desaparecer com certeza o prefeito teria dificuldade em aprovar as contas, ou de evitar pelo menos uma CPI, caso os vereadores do PMDB cerrassem fileira na oposição. Com o acordo recente esse risco está completamente descartado.

Como nem todas as análises são sérias há ainda aqueles que sustentam que a ida de Fontana para o PMDB teria sido uma imposicão do ministros das Minas e Energia, Edison Lobão, que inclusive teria condicionado a liberação do dinheiro da dívida dos royalties atrasados. A hipótese estapafúrdia mostra onde vai o poder de imaginação do ser humana. Decididamente João Fontana não está com essa bola toda.

(reportagem publica no jornal HOJE - edição 388, já nas bancas. Dá uma passadinha lá, dá)

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