Se de fato se concretizar, a derrota da petista Ana Júlia Carepa será a mais acachapante de que se tem notícia na história recente do Pará.
E será uma derrota tão complicada que poderá até arrastar para o fundo do poço boa parte do PT paraense, aí incluídas algumas de suas mais expressivas lideranças, como é o caso do deputado federal Paulo Rocha.
Avisos não faltaram à governadora, mas ela preferiu manter a sua fidelidade canina à Democracia Socialista (DS), talvez a corrente mais arrogante, autoritária e enlouquecida que já apareceu no cenário político paraense, desde sempre repleto de correntes arrogantes, autoritárias e enlouquecidas.
É possível que a DS só encontre paralelo na antiga Força Socialista.
Mas se Edmilson Rodrigues conseguiu, ao fim e ao cabo, manter algum respeito entre os petistas e antigos aliados, Ana Júlia nem isso conseguirá.
Será um triste ocaso para a carreira política da primeira mulher a governar o Pará. Uma carreira, sim, brilhante. Afinal, Ana é uma liderança forjada nas urnas e no movimento sindical.
A passagem de Ana Júlia pelo governo revelou-se, desde o começo, uma sucessão de erros e de grandes lições para todas as lideranças políticas paraenses, e até para os que simplesmente amamos a política.
A primeira é a impossibilidade de um partido, por mais democrático que seja, governar através de uma corrente minoritária e sectária.
Não adianta: o partido pode bater na mesa, como o PT fez várias vezes ao longo desses quatro anos, mas a corrente, por deter a caneta, sempre se julgará “Soberana”.
E talvez o que o PT precise é debater o porquê de as suas mais importantes conquistas no Pará, o Governo do Estado e a Prefeitura de Belém, terem acontecido através de correntes minoritárias e sectárias.
A segunda lição é a distância que existe entre a teoria e a prática política.
O sujeito pode ter lido e relido o Capital; pode ser doutor pela melhor universidade do mundo, mas, se não tiver vivência de política partidária cometerá desatinos que nem um analfabeto cometeria. Até porque, presume-se, o analfabeto teria o básico: humildade. Para não dizer bom senso.
Foram os doutores da DS que conduziram Ana e o PT paraense a essa situação aflitiva em que se encontram.
Desde o começo, esses senhores se comportaram como se possuíssem algum mandato popular; como se fossem eles os eleitos – e não Ana Júlia e o PT.
Tomaram conta do Palácio dos Despachos, dos cargos, do mando.
Por sua arrogância, provocaram toda sorte de conflitos com aqueles que não se curvaram à sua imbecilidade.
Por sua hipocrisia – como se fossem uma ilha de santidade num mar de corruptos – acabaram por afastar todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a vitória de Ana Júlia, em 2006.
Por sua sede de poder, “devoraram” até os integrantes da própria DS que enxergaram a iminência do desastre.
E, o que é até sintomático: foram também eles, que tanto posavam de “imaculados”, a comandar as transações que resultaram nos piores escândalos do governo petista.
No entanto, por mais simpatia que se tenha pela minha xará, não há como inocentá-la de tudo isso.
Afinal, ela possuía, sim, o poder para afastar esses senhores. Não o fez, apesar de todos os avisos que recebeu. Resta-lhe, agora, apenas arcar – e se possível com alguma dignidade – com o ônus de suas decisões.
É claro que nesses dez dias de campanha muita coisa pode acontecer.
Mas, a cada dia que passa, parece mais improvável que Ana Júlia consiga vencer estas eleições.
Ana conseguiu reunir ao seu redor alguns dos maiores partidos paraenses: PP, PR, PTB, PDT e por aí vai.
E por essa ampla aliança e poderio de que dispõe, conseguiu convencer da certeza de sua reeleição até algumas das maiores raposas políticas estaduais.
E mesmo os partidos e raposas, como é o caso de Jader Barbalho e do PMDB, que não se alinharam com Ana, preferiram não lhe fazer uma oposição cerrada, devido ao poder de fogo que ela conseguiu arregimentar – e que aconselhava, sim, a manter a porta entreaberta a uma eventual negociação.
Fosse um Jader ou um Jatene no comando desses exércitos, e com as máquinas estadual, federal e de várias prefeituras ao seu favor, é muito provável que essa parada acabasse, de fato, ainda no primeiro turno.
Mas Ana vai perder para ela mesma e para a DS.
Não, não é a rejeição, que é apenas decorrência, sintoma, e não a causa.
(Ademais, depois da reeleição de Duciomar Costa, rejeição, no Pará, tornou-se quase que anúncio de vitória...)
Na verdade, Ana Júlia derrotará Ana Júlia, pela incapacidade de governar para todos, em vez de apenas para um grupelho sedento de poder.
E a DS derrotará Ana Júlia porque, para a DS, só importa mesmo é a própria DS.
Taí, o candidato da DS, que deve se eleger apesar da terra arrasada que deixará para trás, que não me deixa mentir.
(Perereca da vizinha)