"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


domingo, 10 de outubro de 2010

Domingo de eleição

Não sei os outros, os que não gostam da democracia, mas eu adoro tudo que diz respeito à eleição. Gosto de convenção, de comícios, da movimentação do dia D, no qual todos os partidos botam as garrafas vazias para vender, enfim, acordo cedo e já nas primeiras horas da manhã começo a bater perna, ou então me planto em frente da TV, em busca do noticiário, ou na vasculho a internet . É o mundo em tempo real, mas para consumo interno, nada como a conversa de botequim.

Ainda que não saiba de nada (e cada dia me convenção que só sei que nada sei), principalmente sobre o tema eleição - e os resultados de Parauapebas não me deixam mentir – o simples exercício de discutir o município tem a prerrogativa de fazer a gente se sentir mais cidadão.

No domingo sai cedo de casa, na esperança de encontrar alguns amigos, mas, a agitação da cidade e o grande número de pessoas advindas de outras localidades, me fizeram andar a esmo, sem  encontrar uma viva alma conhecida.

Em meio a poluição materializada pela chuva de “santinhos” de papel-jornal, acompanhei a romaria de eleitores. Os da zona rural, os dos bairros periféricos e até os residentes nos bairros mais centralizados. Uma boa parte sem ter a menor noção em quem votar, facilitava a vidas dos cabos eleitorais. A uma distância considerável dos portões dos locais de votação, bocas de urnas prontos para investir no coitado do eleitor como urubu na carniça. Soldados da Força de Segurança assistiam a tudo placidamente e até com ares de divertimento. Que maravilha a nossa democracia, cantada em verso e prosa por esse mundão afora.

Lá pro meio da tarde, os analistas políticos sem formação acadêmica começam a dar o ar da graça. No Bar do Mário, na avenida JK e no Senadinho do Baixinho a confraria começa a se formar um pouco antes da hora-limite, sem saber que dentro de uma hora partidários do Valmir da Integral iriam invadir a praia, comemorando a expressiva votação de 13 mil votos, aproximadamente.

Apresso-me em direção ao Chico Mendes, porque ainda não votei. Não votei por duas razões. A primeira é que como enfrento filas no dia-a-dia, não iria me  sujeitar a enfrentar mais uma em pleno domingo de eleição. O segundo motivo é mais filosófico. Sempre acreditei que o eleitor só tem moral enquanto não vota, de modo que costumo prorrogar o máximo possível esses momentos de uma ingênua vingança, que mais cedo ou mais tarde perderão o sentido, visto que mesmo que seja às 17 horas em ponto vou pra boca do jacaré e aí a moral vai pro espaço.

Artigo publicado no HOJE, 432 – Coluna do Marcel

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