"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


quarta-feira, 13 de junho de 2007

A síndrome do caldo de petequismo

No jargão popular, "caldo de peteca" é algo parecido com "caldo de piaba", "sopa de pedra" e outras definições nada lisonjeiras. É o mesmo que um sujeito sem futuro, desacreditado, fraco, meio “canoa”, governado pela proa ou pela parte do fundo, o que não se segura em pé. No português claro: o camarada que quase nunca veste as calças de homem.
Imagine na culinária, um caldo com todos os ingredientes possíveis, projetado para ser um revigorante, mas tendo como elemento básico uma misera peteca. Com certeza será uma decepção só.
Agora a síndrome do caldo de petequismo é dose pra leão. É dose porque assim como na culinária, também é uma completa decepção. A princípio promete algo espetacular, mas fica só na promessa. Quando a patologia se instala (quase sempre na infância), é quase imperceptível; apenas os que convivem mais de perto percebem a disfunção. Em casos especiais e com algum esforço, o paciente até consegue esconder a patologia por algum tempo (só não consegue esconder por todo o tempo), passando a idéia de que é normal. Conformismo, dificuldade em impor seu ponto de vista, tremedeira diante de situações adversas, aceitar a dominação de grupos estranhos são alguns dos sintomas mais comuns, mas há outros, tão importantes quanto esses. Relaxamento no uso das funções atribuídas pelo povo, irresponsabilidade, deixar fazer do local de trabalho a casa da mãe Joana, confusão mental, a ponto de escolher pessoas sem preparo para desempenhar funções de grande responsabilidade fazem parte dos outros sintomas.
O caldo de petequismo é hoje uma epidemia. Dá em todo canto, entretanto, no Pará e mais especificamente em Parauapebas a doença se disseminou. O que tem de nego caldo de peteca não está escrito. Gente que escolhe puxar o saco por medo de perder privilégios; que assiste placidamente as injustiças serem cometidas; que se sujeita a buscar cafezinho, carregar pasta; que se cala para fugir de problemas eventuais e que não tem coragem de ir à luta e se presta ao triste papel de bobo da corte, em tomar chimarrão com cara de panaca, quando se sabe que o indigitado nasceu no Goiás ou no Maranhão.
Agora, caldo de peteca mesmo é alguém que recebe 32 mil votos, ficar nas mãos de uma malta de gatos pingados. Eca, paro por aqui.

(esse artigo será publicado no jornal HOJE,
edição do dia 15)

2 comentários:

Joás Medeiros. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joás Medeiros. disse...

Aprendendo com o mestre.

Toda vez que navego pela rede, faço questão de visitar o seu blog; admiro os seus textos e aprendo cada vez que os leio.
Foi por admirar seu blog que resolvi criar o meu.

Abraços, fique com Deus.