"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Márcio Dalferth fala da epopeia da emancipação de Parauapebas




Falar na emancipação político-administrativa, e não falar dos pioneiros que ofereceram suor e lágrimas para que Parauapebas pudesse decidir sobre o seu destino é deixar de reconhecer a luta de um grupo de pessoas que jamais desistiu. Além do envolvimento da população da época, mais de 160 pessoas contribuíram de forma incisiva para o êxito da missão. Nesta edição, o HOJE entrevista Márcio Dalferth, que foi um dos grandes artífices (se não o maior) da emancipação de Parauapebas.

HOJE – Com surgiu o embrião da ideia de liberdade? Quando você percebeu  que já era hora da emancipação?
    Márcio – Tudo começou em fevereiro de 1986 quando me juntei ao grupo de emancipação do estado de Carajás. Era necessário que o futuro estado tivesse uma quantidade maior de municípios e por isso começamos um levantamento dos futuros municípios, dentre os quais Parauapebas. Como eu era do PDT, partido do Geovanni Queiroz eu tinha uma ligação com ele e outras pessoas tinham ligação com Haroldo Bezerra, de Marabá, outros com Carlos Cavalcanti, que era candidato a deputado estadual e ganhou as eleições e por questões partidários, por ele ser do PMDB ele foi o autor do projeto de emancipação de Parauapebas, enquanto Giovanni ficou com outros municípios, como Tucumã, Ourilândia. Dia 07 de março de 1987 nós fizemos uma reunião na Churrascaria do Careca, no Rio Verde, onde hoje funciona a carceragem do Rio Verde. Nessa ocasião coletamos assinaturas  para o primeiro requerimento que daria início ao processo. Algumas pessoas estavam presentes, dentre as quais Faisal Salmen, Wanderlei Brito, o “Wandferlei da Planalto”, Mudubim, Valdir Flausino, Manoel do Baratão, Manoel Calixto, já falecido e outras pessoas mais. No dia seguinte saímos à rua para coletar assinaturas, muitos gostariam de ter assinado, mas não tinham cartão de assinatura no cartório de Marabá. Para resolver essa situação o Almir Siqueira, o “Almir da Transrodovia”, disponibilizou um ônibus para levar o pessoal para reconhecer firma no cartório de Marabá, porque em Parauapebas não tinha cartório. Ao todo foram 116 pessoas que assinaram o primeiro requerimento.

    HOJE – E o próximo passo?
    Márcio – Depois disso nós fizemos o levantamento histórico,    quantas residências,  quantas ligações de energia, população, quantos estabelecimentos comerciais e municiamos o deputado Carlos Cavalcanti com esses documentos. Os problemas começaram a  partir dai, porque emancipar um município naquela época não era tão difícil, difícil era emancipar Parauapebas, por causa do seu potencial econômico e era evidente que Marabá, que era o município-mãe não iria entregar a coisa de mão beijada. Dia 07 de março de 1987 é uma data muito importante porque foi a primeira reunião para recolhimento das assinaturas, visando a emancipação de Parauapebas. Outra data muito importante foi o dia 24 de abril de 1988, que foi o dia do plebiscito, essas datas não podem cair no esquecimento.
    HOJE – O Plebiscito foi difícil?
    Márcio – A população em peso queria a emancipação, mas o plebiscito foi difícil porque havia várias certidões eleitorais, tinha certidão que dava o colégio eleitoral de Parauapebas com 18 mil eleitores, outra dizia que era 16 mil, uma outra atestava um universo de 14 mil e tinha outra que declarava a comprovação de nove mil eleitores. O problema começou após a apuração do plebiscito no o qual votaram 16.034 eleitores, quando nós chegamos em Belém com os boletins e os mapas totalizadores de votos, no TRE tinha a certidão que dava 14 mil eleitores para Parauapebas e foi criado um impasse porque tinham votado um pouco mais de 16 mil eleitores em Parauapebas. Na época nós argumentamos que nosso colégio eleitoral era de 18 mil, fora a população de Água Azul, que também pertencia a Parauapebas. O TRE nos deu 24 horas para apresentar a outra certidão. Eu voltei para Marabá e a juíza eleitoral me deu a certidão comprovando que estava tudo certo e eu pude retornar para Belém de avião para resolver o problema e foi uma das maiores festas que a idade já viu, mas eu não fui a  festa porque dormi quase 24 horas de tão cansado.
    HOJE – como foi a batalha para conseguir a aprovação da Câmara de Marabá?
    Márcio – Como o restante do processo, a aprovação em Marabá foi muito difícil, porque ninguém queria aprovar o desmembramento. Nós tivemos que fazer pressão e até aventar a ideia de entrar com uma candidatura a prefeito de Marabá com uma chapa contendo o candidato a prefeito de Parauapebas e o vice de Curionópolis. Era apenas uma pressão, que no final deu certo.
    HOJE – Consta que no meio do processo de emancipação, havia um mapa que estabelecia os limites na margem direita do rio Parauapebas? Como se conseguiu reverter o quadro?
    Márcio - Em 1987 eu verifiquei que  o mapa do futuro município de Parauapebas estava com os limites no rio Parauapebas, ou seja, Serra dos Carajás iria pertencer a Marabá. Eu vi isso no IBGE com um funcionário do órgão chamado Gadelha. Eu peguei uma cópia do mapa e fomos lutar para que fosse retificado os limites, Lembro que eu falei para o Valdir Flçausino, para o Ivo Gava, Avelar Lustosa, Manuel Baratão Pastor Jonas do Amaral, Manoel Calisto, o “Manoel do Guarujá”, Wanderlei da Planalto e para outros companheiros de linha de frente porque o município iria ficar inviabilizado economicamente. A luta foi grande e contou a coma ajuda de Geovanni Queiroz, que veio nos ajudar e nós fizemos um ato público na feira do Rio Verde, a foto mostra a apresentação do mapa, já retificado. Com a retificação Parauapebas estendeu seus limites ao Rio Itacaiunas e ao rio Itapirapé, depois Marabá empurrou os nossos limites para a Serra do Cururu e criou esse problema da área do Contesto,  que deveria ser de Parauapebas, mas Marabá ficou com essa área para alcançar o Salobo. Depois dessa luta o caminho estava livre e aberto para o evento maior, que foi a promulgação da emancipação de Parauapebasno dia 10 de maio de 1988 pelo então governador do Pará Hélio Gueiro

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