Desde que a bola é redonda, técnicos de seleção brasileira tiveram de enfrentar críticas e campanhas, muitas vezes injustas e orquestradas. Vicente Feola, campeão do mundo em 1958, era acusado de dormir no banco de reservas e de barrar Garrincha por influência de um psiquiatra. Zagallo, tri em 1970, lia e ouvia que chegara ao cargo por imposição da ditadura militar. Nem um nem outro deixou de se comportar como figura pública – como técnico da seleção brasileira – mesmo nos piores momentos.
O atual técnico da seleção brasileira enfrenta críticas – justas e injustas – desde que assumiu o cargo. Houve quem duvidasse de seu sucesso por causa da inexperiência, e mesmo depois que conquistou bons resultados ainda há quem discorde de seus métodos, de seu esquema tático, de sua convocação. Nada muito diferente do que enfrentaram todos os seus antecessores em Copas do Mundo, desde Píndaro de Carvalho.
O que há de diferente é a reação. O técnico da seleção brasileira na Copa de 2010 rompeu todas as barreiras do cargo que ocupa – a última, na entrevista coletiva de ontem, a da educação. Por causa de um meneio de cabeça de um jornalista na primeira pergunta, passou praticamente todo o tempo restante balbuciando palavrões, alguns captados pelo microfone. Ali, não era o treinador que rosnava. Era o cidadão, com as características pessoais que já se tornaram públicas: o rancor, o destempero, o ódio, o flerte com conceitos aplicados em regimes ditatoriais – que ele, filho de professora, diz não saber se eram bons ou ruins porque não os viveu.
Já me manifestei em outros posts sobre o que penso do técnico da seleção brasileira. Acredito nele como treinador, acho que o time que ele comanda tem tudo para ganhar a Copa do Mundo e torço muito para que isso aconteça. Mas – escrevi isso antes da Copa – não acredito nele como figura pública, e o triste episódio de ontem foi a última prova que faltava de que o cidadão que ocupa hoje um cargo tão importante não sabe separá-lo de sua vida privada (assim como já mostrara ao xingar a taça do mundo, erguendo-a como capitão da seleção de 94, enquanto o treinador daquele time, tão criticado quanto ele, dizia “Podem tocar que é nossa!”).
Ao xingar um jornalista, depois da vitória (a vitória!) de ontem, o técnico da seleção brasileira – e não apenas o cidadão que ocupa o cargo – xingou todo e qualquer brasileiro que estivesse assistindo à entrevista coletiva. Era o torcedor que testemunhava a torrente destemperada enquanto celebrava os 3 a 1 sobre a Costa do Marfim e a classificação para a segunda rodada. Por isso pedi desculpas aos telespectadores quando voltamos ao estúdio do Troca de Passes. O episódio motivou uma nota no programa “Fantástico”, da TV Globo, e alguns defensores do treinador – que frequentaram também alguns posts deste blog – já se manifestaram. Este espaço é democrático e estará aberto aos comentários contra e a favor, desde que respeitem os preceitos de não conter palavrões.
Alguns desses comentaristas culpam a imprensa pelos arroubos do técnico da seleção brasileira. Acho vago esse conceito de “a imprensa”. Jornalistas somos vários. Há os que começam suas perguntas nas entrevistas coletivas com frases como “Eu sou do time dos que torcem pela seleção!”, para ver se caem nas graças do treinador. E há os que se preocupam com a qualidade da informação que levam a seus leitores, ouvintes ou telespectadores. Alex Escobar é um deles.
Os que já estiverem pensando em me acusar de corporativismo podem poupar seus teclados. Alex Escobar é mais do que uma das grandes revelações do jornalismo esportivo nos últimos anos – uma carreira cujo começo, na televisão, tive a honra e o prazer de testemunhar, participando com ele dos programas do Sportv. É um de meus melhores amigos, um homem íntegro, que sabe perfeitamente o papel que desempenha diante das telas. Eu o defenderia em qualquer situação, porque confio em suas atitudes à frente das câmeras e fora delas. Se o treinador da seleção brasileira gosta de confundir o cargo que ocupa com suas convicções de cidadão, errou o alvo duas vezes: nem o profissio0nal nem o ser humano que ele quis atingir merecem aqueles xingamentos.
O cidadão que xingou Alex Escobar – e, por extensão, o Brasil – pelas câmeras de TV deu a prova definitiva de que não está preparado para ocupar o cargo de técnico da seleção brasileira, um cargo que não se encerra no trabalho feito em campo, continua no trato com o torcedor brasileiro e seus imperfeitos representantes. Pode ser bem-sucedido na carreira de treinador, levar a seleção a conquistar o hexacampeonato. Mas nem assim terá mostrado ser digno da indicação que recebeu. Ou, como muito melhor do que eu escreveu Aydano André Motta, em “O homem que ama odiar”, post que recomendo: pode ganhar, mas, por pecados que são todos seus, jamais conseguirá vencer.
Meu próximo post será sobre a seleção brasileira. Porque insisto: ela é nossa, e não de seu treinador, muito menos do cidadão que ocupa o cargo.(Blog do Marcelo Barreto)
Um comentário:
Marcel,
Ele, o Dunga, não sabe a responsabilidade que tem nas mãos. Isto está claro para mim há muito tempo. Dunga pensa pequeno, se apega a picuinhas e focaliza o micro.Se revelou um técnico razoável mas não serve para seleção brasileira. Ele nos deixou nivelados por baixo e o pior é que está contentíssimo por isso!
Parabéns pelo blog, estou sempre por aqui.
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