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"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".
(Rui Barbosa)
COLUNA DO MARCEL
O maravilhoso mundo de Kadi
Já contei essa história pelo menos umas cinquenta vezes, mas como o período é dedicado aos pioneiros, o falecido Kadi é a personagem da semana. Nas rodadas de boleiro antigo, as passagens do falecido kadi costuma render boas risadas. Até hoje ele, assim como Timbira, Mestre Roseno e outros, é figura obrigatória no nosso futebol. Ainda que não tenha sido um craque da bola, no sentido mais completo da palavra, Kadi tinha pelo menos pinta e jeito de boleiro.
Do alto do seu um metro e noventa de altura, aquele negro forte, com um sorriso fácil no rosto era amigo de todo mundo. Falava alto, mas no fundo era boa gente. Além do futebol ele gostava de música, samba e do movimento black, mas, convenhamos, ser black Power no final dos anos 90 não era coisa do outro mundo.
Eclético por natureza, arriscava sua musicalidade nas rodas de samba e nas folias de Momo era mestre-sala. Infelizmente, por um engano, segundo consta, foi morto de uma forma boba.
Pintor e mestre na abertura de letras, Kadi morava nas imediações do campo do antigo Terra Seca. Começou sua curta carreira de boleiro no Rio Verde, mas não deu certo, talvez por ser um centroavante de poucos gols. A bem da verdade não se tem notícia de nenhum gol pelo Rio Verde, ou por qualquer outra equipe. Num belo dia, por falta de goleiro, Lá se foi Kadi para o arco e contra todos os prognósticos, fechou o gol. Teria Kadi descoberto uma nova posição? Que nada, pouco tempo depois, após uma infindável série de frangos, sua trajetória no Rio Verde terminou com uma nota de agradecimento e um bilhete azul.
A generosidade que a vida lhe dera nas rodas de samba, não era mesma no futebol e isso às vezes lhe causava um desgosto profundo, entretanto, só por alguns momentos; pouco tempo depois ele já recuperava a alegria e a irreverência.
Ainda que fosse um tremendo perna-de-pau, kadi foi se arranchar no Palmeiras, que dava os primeiros passos. Foi justamente no Palmeiras que ele patrocinou o episódio mais conhecido da sua trajetória. Lá pelo ano de 1989, o Palmeiras jogava um amistoso em Eldorado do Carajás, com um jogador a menos (fruto da desorganização daqueles tempos iniciais). Lá pela metade do segundo tempo, o Palmeiras perdia por 2 a 0 e aparece kadi, atrasado, como acontece com todo craque que se preza.
Por falta de outro jogador para o ataque, lhe deram o material imediatamente. Ao vê aquele armário em forma de gente, com quase dois metros de altura, o treinador da equipe adversária imaginou ser ele o craque que chegara para resolver a situação, virar o placar, enfim. Com a pulga atrás da orelha chamou a zagueirada e deu a seguinte ordem: “Ei, eu quero dois marcando o Negão que vai entrar agora, dois no negão!”.
Na primeira bola, kadi abriu o peito para amaciar a bola, mas esta caprichosamente bateu no osso da clavícula e caiu a dois metros de distancia. No segundo lance, um pouco por culpa do campo ruim e outro tanto pela falta de intimidade com a bola, Kadi não consegui dar prosseguimento à jogada. Depois de cinco minutos, após dar um monte de passes errados e de ter perdido um gol feito, o técnico adversário viu que se preocupara por nada e mandou essa pros zagueiros: “Ê rapaz, larguem o negão, larguem o negão!!”
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