Ruas sem aberturas, água do sebosinho
Claiton e Valdinar, sofrimento
Situada nos limites do bairro Residencial Bela Vista, em cima de uma montanha íngreme, a localidade denominada São Lucas I é um pequeno bairro que só com muita boa vontade se pode assim classificá-la. Com cerca de 400 famílias residentes, fruto da febre dos loteamentos irregulares e da irresponsabilidade de setores da prefeitura que permitiram a venda de terrenos numa área completamente inadequada para moradia assim é o São Lucas I.
O local não tem água, energia e muito menos ruas abertas. Para apanhar água a população precisa se deslocar até o igarapé Ilha do Coco, o “Sebosinho” que fica a cerca de 400 metros, numa área particular. Água sem o menor tratamento é sugada por várias bombas que com muito custo conseguem levar o líquido até os últimos barracos no alto do morro. Apesar das imensas dificuldades enfrentadas pelos moradores, Valdinar Araújo Oliveira, há um ano morando no bairro afirmou que a prioridade é água, “gostaríamos que a prefeitura olhasse para nós, que vivemos em dificuldade e só nos sujeitamos a morar aqui por falta de opção e para fugir do aluguel”. Para Valdinar, a solução seria a abertura de um poço artesiano para atender a demanda do bairro.
A falta de energia também transtorna os moradores. Para resolver o problema os moradores utilizam as chamadas ligações clandestinas. O resultado é energia de péssima qualidade e curtos-circuitos nos horários de pico. Clayton Santos Soares conta que o problema da energia começou há um pouco mais de um ano, quando no meio da noite um caminhão se aproximou e vários homens levaram dois, dos três transformadores existentes no bairro, “depois disso o problema se agravou, o outro transformador queimou e a energia agora é de gambiarra”, diz.
A falta de energia acaba prejudicando os alunos que estudam a noite. Por falta de segurança, pouco a pouco eles estão abandonando os cursos.
Abandono – O abandono se verifica em tudo. As ruas estão cobertas pelo mato e segundo os moradores nunca um equipamento da prefeitura realizou qualquer tipo de serviço. Em razão do terreno muito acidentado fica difícil imaginar máquinas trabalhando para cortar o morro e abrir ruas.
Há cerca de um ano os Serviços Autônomos de Água e Esgotos de Parauapebas (SAAEP) suspenderam o abastecimento de água pelos caminhões-pipa, alegando que não havia acesso para a passagem dos caminhões. Em contato com a reportagem, a responsável pelo setor, Cibele Amorim confirmou que mandara suspender o abastecimento, “o local não tem ruas abertas e os caminhões corriam o risco de causar acidentes no declives das ladeiras”, disse.
Loteamento irregular - A área do bairro foi loteada em 2007, a reboque de vários empreendimentos imobiliários criados exclusivamente para se ganhar dinheiro, deixando o ônus da infra-estrutura para o Poder Público. A proprietária, Maria Aparecida concorda que a área é inadequada para moradia, mas confirmou que a loteou, temendo invasão, “tive que me antecipar e vendi os terrenos baratos, de R$ 3, 4, 5 mil, porque eles localizavam numa área muito difícil”, disse.
Perguntada se a prefeitura aprovara o loteamento ele disse que não, “mas também não embargou”, diz, acrescentando que na época apareceram alguns funcionários da prefeitura querendo propina, “mas ninguém me impediu de vender e eu aproveitei a oportunidade”, confessou.
Sobre a infra-estrutura, ele disse que não fez porque o valor dos terrenos era muito baixo, deixando claro que o problema ficou nas mãos do Poder Público.
Na secretaria de Urbanismo a informação que se tem é que não há nenhum projeto do bairro. O que ninguém sabe explicar é com a prefeitura permitiu que a venda dos terrenos prosseguisse, uma vez que a legislação específica obriga o dono do empreendimento imobiliário a provê a infra-estrutura, como arruamento, meio-fio, posteamento, água e pavimentação. Para Jose Neto presidente da Associação de moradores do Complexo do Residencial Bela Vista, quem engloba o São Marcos I, a parir do momento que a prefeitura permitiu a venda de terrenos sem a menor estrutura chamou para si a responsabilidade de fazê-la.
No meio desse jogo de empurra, os moradores não tem muito o que fazer, se não protestar, ou aguardar que o Poder Público faça os serviços que foi incapaz de exigir do empreendimento imobiliário.
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