"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


sábado, 10 de julho de 2010

Bairro São Lucas I sem a menor estrutura

SÃO LUCASRuas sem aberturas, água do sebosinho

SAO LUCAS 2 Claiton e Valdinar, sofrimento

Situada nos limites do bairro Residencial Bela Vista, em cima de uma montanha íngreme, a localidade denominada São Lucas I é um pequeno bairro que só com muita boa vontade se pode assim classificá-la. Com cerca de 400 famílias residentes, fruto da febre dos loteamentos irregulares e da irresponsabilidade de setores da prefeitura que permitiram a venda de terrenos numa área completamente inadequada para moradia assim é o São Lucas I.

O local não tem água, energia e muito menos ruas abertas. Para apanhar água a população precisa se deslocar até o igarapé Ilha do Coco, o “Sebosinho” que fica a cerca de 400 metros, numa área particular.  Água sem o menor tratamento é sugada por várias bombas que com muito custo conseguem levar o líquido até os últimos barracos no alto do morro. Apesar das imensas  dificuldades enfrentadas pelos moradores, Valdinar  Araújo Oliveira, há um ano morando no bairro afirmou que a prioridade é água, “gostaríamos que a prefeitura olhasse  para nós, que vivemos em dificuldade e só nos sujeitamos a morar aqui por falta de opção e para fugir do aluguel”. Para Valdinar, a solução seria a abertura de um poço artesiano para atender a demanda do bairro.

A falta de energia também transtorna os moradores. Para resolver o problema os moradores utilizam as chamadas ligações clandestinas. O resultado é energia de péssima qualidade e curtos-circuitos nos horários de pico. Clayton Santos Soares conta que o problema da energia começou há um pouco mais de um ano, quando no meio da noite um caminhão se aproximou e vários homens levaram dois, dos três transformadores existentes no bairro, “depois disso o problema se agravou, o outro transformador queimou e a energia agora é de gambiarra”, diz.
 

A  falta de energia acaba prejudicando os alunos que estudam a noite. Por falta de segurança, pouco a pouco eles estão abandonando os cursos.
 

Abandono – O abandono se verifica em tudo. As ruas  estão cobertas pelo mato e segundo os moradores nunca um equipamento da prefeitura realizou qualquer tipo de serviço.  Em razão do terreno muito acidentado fica difícil imaginar máquinas trabalhando para cortar o morro e abrir ruas.

Há cerca de um ano os Serviços Autônomos de Água e Esgotos de Parauapebas (SAAEP) suspenderam o abastecimento de água pelos caminhões-pipa, alegando que não havia acesso para a  passagem dos caminhões. Em contato com a reportagem, a responsável pelo setor, Cibele Amorim confirmou que mandara suspender o  abastecimento, “o local não tem ruas abertas e os caminhões corriam o risco de causar acidentes no declives das ladeiras”, disse.

Loteamento irregular - A área do bairro foi loteada em 2007, a reboque de vários empreendimentos imobiliários criados exclusivamente para se ganhar dinheiro, deixando o ônus da infra-estrutura  para o Poder Público. A proprietária, Maria Aparecida concorda que a área é inadequada para moradia, mas confirmou que  a loteou, temendo invasão, “tive que me antecipar e vendi os terrenos baratos, de R$ 3, 4, 5 mil, porque eles localizavam numa área muito difícil”, disse.

Perguntada se a prefeitura aprovara o loteamento ele disse que não, “mas também não embargou”,  diz, acrescentando que na época apareceram alguns funcionários da prefeitura querendo propina, “mas ninguém me impediu de vender e eu aproveitei a oportunidade”, confessou.

Sobre a infra-estrutura, ele disse que não fez porque o valor dos terrenos era muito baixo, deixando claro que o problema ficou nas mãos do Poder Público.

Na secretaria de Urbanismo a informação que se tem é que não há nenhum projeto do bairro.  O que ninguém sabe explicar é com a prefeitura permitiu que a venda dos terrenos prosseguisse, uma vez que a legislação específica obriga o dono do empreendimento imobiliário a provê a infra-estrutura, como arruamento, meio-fio, posteamento, água e pavimentação. Para Jose Neto presidente da Associação de moradores do Complexo do Residencial Bela Vista, quem engloba o São Marcos I, a parir do momento que a prefeitura permitiu a venda de terrenos sem a menor estrutura chamou para si a responsabilidade de fazê-la.

No meio desse jogo de empurra, os moradores não tem muito o que fazer, se não protestar, ou aguardar que o Poder Público faça os serviços que foi incapaz de exigir do empreendimento imobiliário.

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