"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


terça-feira, 24 de julho de 2012

A carta de desfiliação e o manifesto de Leo Mendes

Ainda que um tanto atrasado (por motivo de viagem), o blogger reproduz o pedido de desfiliação do eminente professor Leo Mendes do PT, assim como o manifesto, que nessa altura do campeonato já de conhecimento geral.
 
É importante frisar, principalmente para quem não conhece das coisas do PT, que Leo Mendes não é um nome qualquer; ele, juntamente com a tendência Articulação de Esquerda (AE) era uma das mais combativas tendências do partido. Com a ausência de Leo Mendes,  o PT sofre um duro revés. Leo era a base moral de um partido que se acostumou a barganhar, se prostituir e ter total desprezo com a coisa pública.
Veja a carta e o manifesto: 
 
 
A carta de desfiliação
 
"Eu, Leônidas Mendes de Araújo Filho, Título Eleitoral 033074961287, venho de livre e espontânea vontade, e em caráter irrevogável, apresentar meu pedido de desfiliação dos quadros deste Partido dos Trabalhadores (PT/Diretório Municipal de Parauapebas/PA). Abaixo, em carta manifesto, inspirada no ex-deputado pernambucano Mauricio Rands, aponto as causas que me motivaram tão radical decisão, depois de 26 anos de militância, 06 dos quais nesta cidade".


O manifesto:
 
“Venho aqui me comunicar diretamente com meus companheiros (em especial, os da Tendência Interna Articulação de Esquerda – AE), amigos e com o povo de Parauapebas, em especial com os militantes do Partido dos Trabalhadores – PT, que compartilharam comigo tantas lutas pela construção de uma cidade melhor e mais democrática, bem como, por um governo municipal mais participativo.
Nas prévias internas de definição do candidato do PT, participei de intenso debate sobre Parauapebas, sobre o partido e o governo que queríamos para nossa cidade. Interagi com os militantes, na compreensão conjunta de que a melhoria na condição de vida na cidade é um processo de construção coletiva no qual o partido tem grande responsabilidade em servir de exemplo na demonstração de práticas democráticas. Testemunhei todo o engajamento desprendido e consciente de muitos companheiros/as nesse debate. Destes militantes, levarei sempre as melhores lembranças e a eles sou profundamente grato.
Depois da decisão, surpreso com os métodos e práticas utilizadas pelo atual governo para assegurar a vitória de sua candidatura preferida, ainda que a contragosto, me dispus, mesmo decepcionado com a submissão de alguns companheiros, a contribuir para uma profunda mudança de rumos seja no partido, seja no próximo governo, posto que, em meu entender, o atual está irremediável e inexoravelmente corrompido. 
Muito ponderei sobre o processo das prévias e sobre o momento político mais geral. A pedido, e por indicação da Coordenação Municipal da AE, ainda tentei, contra minhas convicções políticas e ideológicas, integrar-me a Coordenação da Campanha Majoritária, onde encontrei resistências em relação a minha pessoa e ao grupo político do qual fazia parte. Concluí, então, que esgotei por inteiro a minha motivação e a razão para continuar lutando por uma renovação no PT/Parauapebas. Percebi terem sido infrutíferas e sem perspectivas minhas tentativas de afirmar a compreensão de que o ‘como fazer’ é tão importante quanto o resultado.
As diferenças de métodos e práticas, aliás, já vinham sendo por mim amadurecidas e acumuladas há algum tempo. Todavia, esse processo recente fez com que as divergências ficassem mais claras e insuperáveis. Na luta pela renovação do partido, infelizmente, têm prevalecido posições autoritárias e, burocraticamente, distantes da realidade dos militantes e, por serem motivadas por interesses pessoais, às vezes, inconfessáveis, contrárias ao pensamento da base partidária, como vimos, agora, nessa esdrúxula e descabida aliança com o PMDB, cujos métodos só reforçam minha profunda decepção.
No debate das prévias, minha candidatura buscou construir uma legítima renovação por dentro do PT. Mas, lutamos também para renovar os procedimentos, com o objetivo de reforçar as práticas democráticas. Porém, setores dominantes do governo municipal já tinham outro roteiro que não o debate democrático com a militância do PT e sua livre decisão. Ou seja, cometeram o grave equívoco de ter a pretensão de impor, e impuseram, a partir da antessala do prefeito Darci Lermen, um candidato ao PT e ao povo de Parauapebas.
Por não terem dialogado com a militância do PT, ignoraram que existiam alternativas, procedimentais e de quadros, dentro do partido, que unificariam o partido em torno de uma candidatura do PT: lamentavelmente, essa unidade resultou rompida. Diante da minha discordância com essa ruptura provocada pela intervenção governo municipal, concluí que cheguei ao fim de um ciclo na minha vida de militante partidário.
É nesse quadro que comunico aqui três decisões tomadas por mim. Primeiro, a minha desfiliação do PT. Segundo, a devolução do meu mandato como membro do Diretório Municipal. E, por último, meu afastamento definitivo do cargo de secretário adjunto da Secretaria Municipal de Planejamento. 
Existiram diversas razões que me levaram a este caminho. A mais crucial dá-se no nível da minha consciência. Sempre agi, na vida e na política, com o maior rigor entre o que penso e o que faço. Sempre cumpri os deveres da minha consciência. Defendi nos debates partidários a renovação do modo petista de governar e a implantação de um novo modelo de gestão em Parauapebas. Modelo capaz de aprofundar nossa concepção de democracia participativa e especialmente de trazer para a cidade novos métodos e ações na condução da ‘coisa pública’ (da res publica, como diziam os antigos romanos). 
Minha experiência como secretário adjunto do governo municipal foi fundamental para entender a importância da política de fazer, com formas competentes e inovadoras de gerir os recursos públicos e promover a inclusão social. Bem como, daquilo que não compartilho, não concordo e de que não mais me disponho ao silêncio.
Ainda nos debates das prévias, defendi a renovação das práticas e dos quadros partidários, bem como a melhoria da articulação política do governo municipal com o parlamento, os partidos da base e a sociedade civil organizada. Nesses anos de militância, dediquei grande parte da minha vida a fortalecer o campo democrático-popular, lutando para aumentar a participação e a consciência política do nosso povo.
Amadureci as decisões que acabo de tomar com base em fatos altamente relevantes que impactaram minha consciência de cidadão. Entre estes, a percepção do desamor, do descaso e do abandono a que Parauapebas vem sendo submetida, em especial neste segundo mandato do prefeito Darci Lermen, que não se mostrou à altura das necessidades de nosso povo. Ao Partido dos Trabalhadores, não perdoo a conivente irresponsabilidade que compartilhou com tão ingerente prefeito: tudo viu, nada fez! E não posso crer que tais práticas, pretéritas e presentes, possam resultar diferentes no futuro!
Por fim, dirijo minhas últimas palavras aos companheiros/as da Articulação de Esquerda, vez que, mais que quaisquer outros, foram os mais sacrificados por se manterem ao meu lado e terem defendido meu nome nas prévias internas. Mas, por terem testemunhado minha lealdade, minhas convicções, minhas esperanças e minha disciplina em defesa de nossas teses, da democracia partidária e de uma Parauapebas melhor. Eles sabem como é dolorida minha extremada decisão!
Esclareço-os que o faço na certeza de que agora, sem o embaraço de minhas posições, talvez, nossos adversários internos possam não mais se voltar contra eles, se o objetivo de algum modo fosse obstaculizar minhas práticas e minhas opções políticas e ideológicas. Tenho certeza de que saberão compreender meu sacrifício! E, quem sabe, poderemos um dia, num futuro que espero não distante, estarmos novamente juntos em defesa de nossas idéias e na certeza de que seremos capazes de realmente transformar nossa cidade, torna-la melhor, mais justa e mais democrática!
Como esta posição tem graves implicações para minha vida partidária, decidi que devo sair do PT e, com dignidade, devolver todas as funções que exerço em nome ou dentro do partido. E como gesto concreto de que não se trata de um jogo menor, de barganha por espaços de poder, decidi também sair definitivamente do governo municipal. Esse é o custo, sem dúvida, elevado, de ser fiel à minha consciência cidadã”.


Parauapebas, 18 de julho de 2012

Leônidas Mendes de Araújo Filho

2 comentários:

Anônimo disse...

Não sei que refez esse faz, aqui no PT nuca foi nada, desde quando pentelhar e bagunsar e alguma coisa, nunca contribui com a Historia do PT de Parauapebas e forasteiro foi espulso de PT da Paraiba tres vezes e aqui nunca passou do que é por não ser de confiaça. O que não presta pode ir pro PSD e melhor agora do que no futuro comprometer e manchar o partido

Anônimo disse...

Se é que é possível manchar mais alguma coisa ali. Como todo mundo sabe, o PT de Parauapebas, assim como o do resto do país, de mensalões e dolares na cueca está mais sujo do que pau de galinheiro.