"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


sábado, 6 de fevereiro de 2010

A Aparência do mal II

Como havia prometido na edição anterior, volto com o tema relacionado à aparência do mal. Para contextualizar o leitor, adianto que esse artigo e o anterior se referem às fortunas amealhadas recentemente e subitamente, depois que o cidadão se viu de posse de um cargo do alto escalão da prefeitura.

Sobre o termo aparência do mal, devo dizer que não é meu. Ele vem dos tempos apostólicos, quando o apostolo São Paulo recomendou aos discípulos que se guardassem da tal aparência. Ora, partindo desse pressuposto, se conclui que a aparência do mal é tão nefasta quanto o mal em si.

Se a máxima deveria ser aplicada no cotidiano, imaginem vocês no serviço público, no qual o servidor (seja ele o prefeito ou o auxiliar de serviços gerais) lida com os recursos públicos. Volta novamente o provérbio romano citado no artigo anterior de que a mulher de César não deveria apenas ser honesta, mas parecer honesta.

O que se vê é que ao longo dos anos os agentes públicos de Parauapebas não primaram em se guardar da aparência do mal. Os do passado deram verdadeiras aulas de como enriquecer da noite para o dia e de como esbanjar o dinheiro público. O de hoje vão ao mesmo caminho e não se preocupam nem em disfarçar o que salta aos olhos.

Em sua defesa poderia dizer que herdaram a fortuna de um parente distante, que morreu do dia pra noite e lhes deixou um mundaréu de dinheiro; poderiam imitar aquele deputado, que para justificar o dinheiro afanado do orçamento afirmou que ganhara na loteria 150 vezes; poderiam dizer ainda que o dinheiro que hoje levanta suspeita lhes pertencia anteriormente, apenas estava bem guardado; por último poderiam dizer que de uma hora para outra se transformaram em gênios dos negócios e aplicaram no bolsa, nos fundos de renda fixa, em ouro, enfim, multiplicaram os seus haveres em 200, 300 vezes.

Mesmo que as justificativas fossem plausíveis, ainda assim sobrariam indagações. Se tinham dinheiro para ostentar porque não o fizeram antes? Se podiam comprar fazendas, construir campo society e piscina na fazenda, ou construir mansão nos bairros emergentes da cidade, por que não as compraram antes de entrarem para o serviço público? Se tinham muito dinheiro nas algibeiras, por que só deixaram para cair na esbórnia fechar rendez-vous quando estavam investidos de cargos que lhe davam a chave do cofre ou a possibilidade de “negociatas”? Se eram mesmo magos das finanças, por que o talento insuspeitado só floresceu agora, justamente agora?

A verdade é que não interessa muito se o camarada tinha recursos granjeados anteriormente ou não. O que fica mais do que nunca evidenciado é que justamente agora ele resolve ostentar um luxo que ele nunca possuiu, como que a sorrir da cara do povo, ou achar que todo mundo tem orelha furada.

Pobre de nós que não sabemos se choramos ou se sorrimos.

(artigo publicado no jornal HOJE - edição 400 - Coluna do Marcel)

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