"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


domingo, 21 de março de 2010

Canto do Guerreiro


O momento cultura desse domingo é de Gonçalves Dias, poeta maranhense que teve como particularidade poemas que abvordavam temas indianistas. Abaico uma p equena biografia.


Gonçalves Dias (Caxias MA 1823 - Baixo dos Atins MA 1864) estudou Direito em Coimbra, Portugal, entre 1840 e 1844; lá ocorreu sua estréia literária, em 1841, com poema dedicado à coroação do Imperador D. Pedro II no Brasil. Em 1843, escreveria o famoso poema Canção do Exílio. De volta ao Brasil, foi nomeado Professor de Latim e secretário do Liceu de Niterói, e iniciou atividades no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Nos anos seguintes, aliou a intensa produção literária com o trabalho como colaborador de vários periódicos, professor do Colégio Pedro II e pesquisador do IHGB, que o levou a fazer várias viagens pelo interior do Brasil e para a Europa. Em 1846, a publicação de Primeiros Cantos o consagraria como poeta; pouco depois publicaria Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão (1848) e Últimos Cantos (1851). Suas Poesias Completas seriam publicadas em 1944. Considerado o principal poeta da primeira geração do Romantismo brasileiro, Gonçalves Dias ajudou a formar, com José de Alencar, uma literatura de feição nacional, principalmente com seus poemas de temática indigenista e patriótica. O poema avaixo "Canto do Guerreiro faz parte dessa safra.





O CANTO DO GUERREIRO


Gonçalves Dias
I


Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.


II


Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;
Quem há, como eu sou?


III


Quem guia nos ares
A frecha emplumada,
Ferindo uma presa,
Com tanta certeza,
Na altura arrojada onde eu a mandar?
— Guerreiros, ouvi-me,
— Ouvi meu cantar.


IV


Quem tantos imigos
Em guerras preou?
Quem canta seus feitos
Com mais energia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me:
— Quem há, como eu sou?


V


Na caça ou na lide,
Quem há que me afronte?!
A onça raivosa
Meus passos conhece,
O imigo estremece,
E a ave medrosa
Se esconde no céu.
— Quem há mais valente,
— Mais destro que eu?


VI


Se as matas estrujo
Co’os sons do Boré,
Mil arcos se encurvam,
Mil setas lá voam,
Mil gritos reboam,
Mil homens de pé
Eis surgem, respondem
Aos sons do Boré!
— Quem é mais valente,
— Mais forte quem é?


VII


Lá vão pelas matas;
Não fazem ruído:
O vento gemendo
E as matas tremendo
E o triste carpido
Duma ave a cantar,
São eles — guerreiros,
Que faço avançar.


VIII


E o Piaga se ruge
No seu Maracá,
A morte lá paira
Nos ares frechados,
Os campos juncados
De mortos são já:
Mil homens viveram,
Mil homens são lá.


IX


E então se de novo
Eu toco o Boré;
Qual fonte que salta
De rocha empinada,
Que vai marulhosa,
Fremente e queixosa,
Que a raiva apagada
De todo não é,
Tal eles se escoam
Aos sons do Boré.
— Guerreiros, dizei-me,
— Tão forte quem é?

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