A velha gorda gostava de dizer que o pau que nascia torto até as cinzas eram tortas. Apesar das muitas invencionices, a velha sabia das coisas. É batata; o que começa errado dificilmente termina certo.
Lembro-me que há coisa de três anos, uma amigo petista, que por falta de autorização declino-me de citar o nome me procurou. Estava animado. Falara com o prefeito, que acabara de ser reeleito e entre um gole e outro de coca-cola com cachaça tentava me mostrar que eu estava errado na minha avaliação do governo municipal. “Você vai ver, o segundo mandato vai ser muito diferente, vai ser bem melhor. No primeiro o prefeito tinha muitos compromissos de campanha e não pôde trabalhar, o segundo mandato ele não deve nada a ninguém”.
Por uma questão de amizade, ou de falta de disposição de começar uma discussão que não levaria a absolutamente nada, não abri a boca. O camarada estava no auge do encantamento; seria chover no molhado. O meu ceticismo, entretanto, foi tomado como deboche e de repente a discussão que eu tentara evitar estava ali, diante de uma garrafa de coca-cola e um copo de cana da boa.
Diante da insistência do indigitado amigo resolvi desfiar o novelo. Disse com todas as letras que não acreditava porque ainda que tivesse sofrido uma maquiagem, a essência do governo era a mesma. O mesmo espetáculo, o mesmo cenário e as mesmas personagens. Esperar o quê de um staff composto por neguinhos e branquinhos passados na casca do alho pelo menos umas duzentas vezes? Como ensinar um camarada a andar na linha, se durante quatro longos anos ele se acostumara a farra geral da coisa pública? O tempo passou e a galera mostrou que o hábito costuma fazer o monge, sim senhor, é isso aí a tchurma deitou e rolou, no dizer do caboclo, nadou de braçada. Incrível, fantástico, extraordinário, Darci ameaçou mexer, ameaçou demitir e tirante o Milton, não saiu ninguém.
Lembram do amigo petista que ardia de fervor cívico, como se a segunda chance dada ao prefeito fosse capaz de redimi-lo? Pois é, sumiu, aliás, um dia desses o encontrei de passagem. Cansado, desesperançado e com uma enorme crise de consciência para carregar nos costados. Não pude deixar de sentir uma certa pena dele, afinal, ele é um sobrevivente, desnutrido, mas um sobrevivente, bem diferente de alguns gordinhos endienheirados. O rango para esses tem sido caprichado há cinco longos anos.
(Artigo publicado no jornal HOJE - edição 407 - Coluna do Marcel)
sábado, 27 de março de 2010
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