Miriam Leitão
Economistas do governo trabalham com o cenário de que o ano pode não ser tão ruim quanto alguns líderes europeus estão dizendo.
Angela Merkel e Nicolas Sarkozy disseram que 2012 será pior que 2011. Em Brasília, há a esperança de que a partir de meados do ano a situação melhore. Mesmo assim, sabe-se que haverá muito estresse.
O Banco Central se prepara para o anúncio do IPCA na sexta-feira. Provavelmente, a inflação de dezembro vai mostrar que a meta foi ligeiramente descumprida. O argumento já explicitado pela Fazenda é que se ficar abaixo de 6,55% a meta terá sido cumprida. Na verdade, qualquer coisa acima de 6,50% é estouro do teto da meta.
O argumento não é brigar com a segunda casa decimal depois da vírgula, mas sim o de mostrar que o ano foi difícil para todos. Mesmo os que enfrentaram quadro recessivo estão com inflação acima da meta.
No Reino Unido, por exemplo, onde a meta é 2%, a inflação está em 4,4%. A Zona do Euro tem meta informal de 2% e tanto Alemanha quanto França estão acima disso. Os EUA não tem meta explícita, mas buscam 2% e a taxa está em 3,4%.
Nos países que cresceram mais fortemente, a taxa está muito alta. Como na Índia, em 8,5%. Na China, o número é divulgado pelo Conselho de Estado com todos os filtros e manipulações que se pode imaginar. Mesmo assim, eles admitem que a inflação passou o ano inteiro acima dos 4%, que é a meta do país.
A inflação de 2011 no mundo foi impactada pela política de expansão monetária e fiscal adotada para enfrentar a crise de 2008/2009. O importante no caso do Brasil é que a inflação inverteu a curva e o governo Dilma tem demonstrado que quer impedir que ela fuja do controle.
Certas políticas e discursos entram em contradição com o objetivo da inflação controlada. Mesmo assim, a taxa que já tinha ultrapassado 7,3% caiu nos últimos meses.
Para 2012, o BC deve demonstrar empenho para levar a taxa ao centro da meta até dezembro, como prometido pelo presidente Alexandre Tombini. O problema é que este ano há pressões inflacionárias e muita incerteza.
O que se diz no governo é que o cenário externo terá momentos de estresse bancário, mas que do ponto de vista da administração governamental da crise a situação pode estar começando a melhorar.
Depois de meses muito difíceis, principalmente outubro e novembro, os dois maiores líderes da Europa entraram em acordo e desenharam uma solução parecida com a Lei de Responsabilidade Fiscal brasileira.
A explicação que ouvi é que apesar de não haver, como no Brasil, uma forma clara de a União punir os que descumprirem as regras fiscais, a Europa está criando mecanismos de constrangimento para que os países sigam os limites.
A Espanha mesmo não cumprindo o número está fazendo esforços enormes para controlar as contas. Itália e Grécia têm governos técnicos que perseguem reformas. A solução já estaria desenhada, sendo necessária apenas a formalização disso. Pode levar alguns meses, mas já está sendo encaminhada.
A França passará por um momento mais difícil até maio, quando será a eleição, principalmente se a nota da dívida for rebaixada, mas o segundo semestre pode ser melhor do que o primeiro, de acordo com essa avaliação.
Os momentos mais difíceis do ano serão vividos no mercado bancário porque as instituições terão que se esforçar para cumprir a exigência de aumento de capital, ao mesmo tempo em que alguns bancos serão alvo de desconfiança. Os bancos mais frágeis terão que tentar se capitalizar e enfrentar dificuldade de captação.
O Brasil está preparado para os vários cenários, garante-se no governo. Considera-se que qualquer que seja a turbulência do ano não deve ser tão grave quanto a de 2008. Sobre a conjuntura brasileira a avaliação é a de que o país começa o ano fraco, em termos de atividade, mas depois aumentará o ritmo e que no segundo semestre o país vai crescer mais do que no primeiro.
No ano, o país deve crescer por volta de 3,5% mesmo que a Europa continue parada; os EUA, com leves sinais de melhora; e a China, com pequena desaceleração.
A conclusão feita é que o Brasil está se saindo bem desse período de enorme incerteza no mundo, ao conseguir evitar o descontrole inflacionário e a recessão.
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