Aos 69 anos, João Vianna de Paula, como dois “NN” no Viana, como costumava frisar, não costumava pedir arreglo e segundo as más línguas, ainda era madeira de dá em doido. Apesar da idade, adorava frequentar os botecos do Rio Verde. Má pessoa não era, a bem da verdade, seu único defeito (se é que era defeito) era ser namorador um pouco demais. Ao longo da vida a obsessão pelo sexo oposto lhe trouxera desarranjos com a patroa, D. Nena, mas ela, em nome da convivência de décadas às vezes fingia nada saber e a vida seguia.
“Dezinho”, como era chamado pelos amigos era desses que apreciava umas boas carraspanas, entremeadas de uma boa prosa. Era chegado num pif-paf e gostava de contar vantagem sobre suas peripécias de alcova. No dizer dos antigos, ele era perdido morto por um rabo de saia.
Com Dezinho não tinha tempo ruim. Ele tinha aquela coisa de elevar o astral da turma. Uma xavecada aqui, uma anedota ali e Dezinho ia levando a vida.
Na semana passada, entretanto, foi diferente. O dito chegou no barzinho da Sol Poente e jogou apenas duas mãos de sinuca com “Pelego”, um mulato falante e cheio de graçolas, que reparou na sua beca alinhada. Entre uma bola na caçapa e um giz no taco, Dezinho confidenciou que estava pegando uma morena de parar o trânsito, “tô indo pra lá agora ”, disse .
Para garantir o bom desempenho, ele, que não era bobo nem nada passou na farmácia e abasteceu o estoque de pílulas azuis, aproveitando para tomar uma e seguiu todo prosa para o encontro com a tal morena. Caminhou um pouco pelas passarelas do canteiro central e chegou a conclusão que a vida era bela. Enquanto aspirava a brisa daquela noite de início de julho descobriu que ainda podia atrair a atenção de uma mulher mais jovem (mesmo que tivesse que gastar algum).
Perdido em devaneios nem percebeu que perdera muito tempo no trajeto e chegara atrasado ao encontro. A morena tinha dado no pé. Chateado pela pisada na bola, Dezinho maldisse o atraso e o fato de não ter apanhado um mototaxi, “logo agora que pílula está fazendo efeito”.
Já que perdera o melhor da festa, Dezinho decidiu que a noite acabara; o melhor era voltar para casa, tomar um banho frio para baixar a pressão e dormir. Pegou o primeiro mototaxi que encontrou e zarpou, em direção ao Rio Verde. No caminho, levou pavor ao profissional do transporte alternativo, que não esperava o passageiro na garupa no ponto de bala. Pelo sim, pelo não o mototaxista foi guiando o veículo sentado no tanque da moto.
Muito injuriado o camarada chegou em casa e imagina quem pagou o pato? Isso mesmo, D. Nena.
(artigo publicado no jornal HOJE - Coluna do Marcel)
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
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Um comentário:
ainda bem que eu não sou D. Nena. já pensou saber de tudo isso calada.
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