"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


sexta-feira, 10 de junho de 2011

No reino do Rio de Águas Sujas, a bandalheira corre frouxa

No reino de Rio de Águas Sujas a bandalheira corre frouxa. Dizem que por lá ninguém é de ninguém. Carnaval na Bahia perde de goleada. O rei, o amigo do rei, o jabuti, a vaca atolada, o pela-saco assumido e juramentado e as araras baleadas trombeteiam nas suas andanças que a fuzaca no reino do Rio de Águas Sujas é da melhor qualidade e compensa dar um bordejo por lá. Até o luxburro, que de burro não tem nada, resolveu dar um bordejo pela city. Nas algibeiras, o cara trouxe dinheiro para pagar propina para conseguir licença para um hotel, um posto de combustível, que é o negócio da moda e um loteamento. Apesar do convite, já avisaram que a propina pra loteamento tinha sido majorada, agora era um milhão de merrecas.

Nos finais de semana, a capital do reio, conhecida como Terra de Muro Baixo vira um fuzuê. Todo mundo se encontra no único shopping da região para assistir cinema em 3D, falar mal da vida alheia e planejar um novo criatório de peixe. Na Terra de Muro Baixo, que não tem tanque de peixe é cidadão de Segunda classe.

Até o reizinho, Lerdo Primeiro e Último tem, aliás, ele, pra não ficar com as vastas mãos abanando, mandou preparar uma cuia de tacacá, com bastante mate (ele é meio zuereta) e baixou um edito. A partir de agora é terra arrasada. Quem sair por último que apague a luz. Para dar o exemplo, o monarca pulou o córrego. Para deixar passar uma estrada de carro de boi pelo perímetro imperial ele cobrou a bagatela de 20 merrecas, mas exigiu em espécie.

Neguinho e branquinho espernearam, mas no final tiveram que ir se queixar para bispo, um tremendo engoveiro, que avisou que não tinha muito tempo a perder com gente sem futuro e estava de saída para uma importante reunião no casarão do rei Lerdo. Na pauta, moda de viola, tacacá com erva mate e piadas de gaúcho.

Depois da comilança, Lerdo coçou a barbicha e abriu o jogo na bucha: todo mundo estava com a vida feita e ele precisava pensar na aposentadoria. O problema é que fora pego com a boca na botija e a “ralé”, também conhecida como “populacho”, “Ze povim” estava de olho grande. O tal do “Pau de gato”, incompetente como ele só, tinha protelado a entrada das 800 merrecas, o que tinha inviabilizado a comissão e o “rachachá”, “agora tá todo mundo de olho, inclusive a imprensa”. Foi o que bastou para trupe tachar a imprensa de PIG, neo liberal e “empata”.

O rei Lerdo terminou a reunião querendo saber quem iria lhe socorrer, afinal, graças a ele, todo mundo tinha colocado o burro na sombra.

As araras baleadas bateram asas e foram cantar em outra freguesia; a vaca atolada saiu abanando o rabo e alegou que recebera um telefonema urgente e tinha que tirar o pai da forca. O pela-saco, também chamado de pau mandado mandou o rei para aquele lugar e saiu. Foi se juntar a Arara baleada, que nessa altura do campeonato, já espalhava aos quatro cantos da terra de Muro Bairro que o rei quebrara e de quebra trincara os vizinhos. Sobrara o jabuti, mas quando foi chamado a comparecer com algum se escondeu dentro da carapaça. O rei estava literalmente só.


(Artigo publicado no jornal HOJE - Coluna do Marcel)

2 comentários:

Unknown disse...

Marcel, qualquer semelhança com a camarilha que governa a cidade e mera coicidencia?
Parabens pelo artigo.

Anônimo disse...

Marcel preciso do glossário!!! manda aí. masfrazao@gmail.com