"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Chico Alencar: "aquele PT do qual fiz parte morreu e não volta mais"


(Blog do Josias de Souza)

Ex-petista, o deputado Chico Alencar (RJ), hoje no PSOL, frequentou a sessão em que foi votado o salário mínimo como espécie de alterego de seu antigo partido.

Levou ao microfone e às conversas de plenário temas caros ao ex-PT. Assuntos que, hoje, sobrevivem apenas nas profundezas do subconsciente do PT.

Formado em História, Chico disse que a sessão de quarta-feira (16), marcada pela contradição, o fez recordar de um ensinamento de Eric Hobsbawm.

“Ele diz: os historiadores são recordadores profissionais daquilo que os cidadãos querem esquecer”. Vai abaixo uma entrevista concedida por Chico Alencar ao blog:



- Achou que seus ex-colegas de PT estavam constrangidos ao aprovar o mínimo de R$ 545? Sim. E nós, que conhecemos muito a história do PT, às vezes dizemos coisas que incomodam. Levantamos alguns pontos naquela sessão.

- Por quê? Sou formado em história. Na sessão do salário mínimo, lembrei instantaneamente do Eric Hobsbawm. Ele diz: os historiadores são recordadores profissionais daquilo que os cidadãos querem esquecer.

- Compadeceu-se do deputado Vicentinho (PT-SP) por ter esquecido o passado sindical? Não. O Vicente é um cara sereno, responsável pelas escolhas.

- Não se compadeceu nem na hora das vaias? Ele levou lá uma vaias, é sempre constrangedor. Mas não me compadeci. Achei que ele assumiu um papel que contraria a história dele. Mas já estou acostumado. Petistas defenderem o governo incondicionalmente tornou-se a regra. O PT não tem mais espírito crítico. O Vicente entrou nesse time. Se houve constrangimento, foi logo superado pelo telefonema da Dilma. Li que ele se considerou recompensado.

- Conseguiu entender por que a CUT fez pouca pressão sobre os deputados? A CUT não fez pressão nenhuma. Isso sim, foi constrangedor, inclusive pra mim. Desde a manhã, ao chegar à Câmara, eu procurava a CUT. Tinha lá um ou outro gato pingado. Omissão incompreensível para entidade que sempre se bateu pelo mínimo.

- Havia gente da CUT nas galerias? Apareceram uns seis ou sete. Ficaram num cantinho, escondidos. E logo foram embora. Enquanto estiveram lá, não se manifestavam. Não vaiaram, não viraram de costas para o plenário como os outros.

- O que achou do protagonismo da Força Sindical? Foi outro ponto curioso de uma sessão repleta de excentricidades. A Força Sindical, que a CUT sempre considerou pelega, liderou um pleito de trabalhadores. O Ivan Valente [PSOL-SP] brincou: ‘As coisas estão tão trocadas no Brasil, que passou a existir o peleguismo combativo’.

- O Paulinho (PDT-SP, presidente da Força Sindical) ouviu a pilhéria? Fiz questão de chamá-lo. Eu disse: Paulinho, olha o que o Ivan tá dizendo aqui.

- E ele? Riu muito. O Paulinho me disse: ‘É, pelego tem limite também, né?’.”

- No papel de recordador do passado, citou o Dieese. Por quê? Citei porque ninguém mais se lembra dele. O Dieese sempre foi referência para o PT. E incomodava muito o PSDB e o PFL, hoje DEM, quando eram governo. Para o Dieese, o salário mínimo ideal, o valor que atenderia às necessidades do trabalhador tal como previstas no artigo 7º, inciso 4º da Constituição, é de R$ 2.227,53. Ninguém mais fala nisso. O Dieese virou o grande esquecido.

- O PSOL propôs um mínimo de R$ 700. De onde tirou o valor? Não foi um número sacado a esmo. Considera a inflação da cesta básica. Os produtos consumidos pelos mais pobres subiram mais que os outros. Levamos um carrinho de compras para a entrada do plenário, para mostrar que o valor proposto pelo governo não corrigiu o salário mínimo propriamente pela inflação.

- Por que a emenda do PSOL não foi a voto? A gente obteve as assinaturas do PSDB, PPS e DEM, para permitir que a emenda tramitasse. Mas, no plenário, o Vicentinho, que era o relator, considerou a nossa proposta inconstitucional, sob o argumento de que incluía a retroação do reajuste. E havia um acordo.

- Que acordo? As lideranças combinaram que, naquela noite, haveria apenas duas votações nominais. Quem tem as maiores bancadas prevalece. Foram votadas as emendas do PSDB [R$ 600] e a do DEM [560]. Eu brinquei: a nossa emenda, que mais se aproximava do preceito constitucional, foi considerada inconstitucional.

- Recordou no microfone o autoreajuste dos parlamentares e o aumento dado a ministros e à presidente. Incomodou-se com o contraste? Considero revelador que o salário mínimo tenha sido votado num ambiente de incoerência máxima. Para o mínimo, aumento de 6,7%. Para os parlamentares, 61,8%. Para os ministros e a presidente, a elevação passou de 130%. Fiz questão de lembrar que o ministro Guido Mantega [Fazenda], tão preocupado com o quadro fiscal, não se queixou do aumento que recebeu. Tudo isso foi esquecido naquela sessão. Fomos tão céleres para aprovar o reajuste da cúpula dos Poderes e tão parcimoniosos na hora de votar o salário básico do trabalhador brasileiro. Constrange.

- Sentiu-se aliviado por ter deixado o PT em 2003? Vi deputados novos do PT incomodados, quietinhos. Verifiquei que aquele PT do qual fiz parte morreu e não volta mais. Os dois deputados do PT que votaram num salário um pouquinho maior [R$ 560] e os sete que faltaram à sessão conservam um pouco daquele velho espírito petista. Mas estão esmagados.

- A experiência mostra que esquerdista é um direitista que ainda não chegou à chave do cofre. Não acha que o PSOL, na hipótese onírica de chegar ao poder, viraria um PT? O Carlito Maia, petista histórico, dizia: quando a esquerda começa a contar dinheiro, já deixou de ser esquerda.

- Há o risco, portanto. Sim, há esse risco. A história mostra que partidos revolucionários vão se tornando conservadores à medida que a institucionalidade exige. Levam bandeiras históricas ao armário. Mas creio que, embora isso seja recorrente na história, não é uma condenação ou um determinismo. Alguma mudança sempre pode haver, mas não um transformismo tão forte como esse que infelicita o PT. Chegou-se a um ponto em que o partido não admite nem discutir o salário mínimo. Houve alguma recuperação do valor na Era FHC, um pouco mais na Era Lula. Mas em valores muito inferiores aos padrões que o PT sempre defendeu.

3 comentários:

Anônimo disse...

Seu antipetismo é comovente! Seu antilulismo deprimente! Vc é daqueles nordestinos que os sulistas adoram: pedro pedreiro (rsrsr)! Quer fazer parte da Casa Grande, mesmo que seja no papel de "mucama" feia! Lavar as patas do dono da senzala. Às mucamas bonitas são reservado outros papéis!

Mas já que tens interesse pelo Hobsbaw, não precisas do PSOL nem do PIG pra conhecer a análise que ele faz do governo petista do Presidente LULA. Ficarás decepcionado!

Em tempo te digo, poderias fazer papel de capitão do mato do teu povo, mas preferes, acredito, o de mucama!

(rsrsrsrsrsrsrsr)

Marcel Nogueira disse...

Não sei porque, mas quando a coisa engrossa, o petista evoca logo o nome de Lula, como se este fosse o antídoto para todos os malefícios do país, (inclusive alguns que o PT de Lula nos impôs e que a Dilma vai ter que conviver, como a política externa desastrada (apoio ao Irã, ao Hugo Chaves e a omissão de apoio a ativistas de Cuba).
Infelizmente, esquecem que o PT de Lula é muito diferente das bandeiras do PT histórico, que demonizava aliança com o Sarney, com o Collor e que o Lula e Dilma alegremente passaram por cima.
Gostaria de ver como ficará a cara de alguns ventríloquos de Lula, que esfegavam as vastas mãos (não tão limpas assim)diante da vitória de Dilma e tinham como favas contadas o tal do controle Social (leia-se PT) sobre a imprensa, numa replica mal acabada do chavismo babaca, que morre de medo do contaditório. Com certeza devem estar com as barbas de molho, ao perceberem que a Dilma não tem a menor vontade de se envolver numa queda de braço com a imprensa. Para alguns idiotas, democracia é bom apenas quando se quer chegar ao poder, o resto tem que ir para a lata do lixo.
Ah! Mensalão, apoio ao Irã, a Hugo Chaves, banana para a Reforma Agrária (joia da coroa do PT que Lula andou pra ela)não são obras do PIG (desculpa parafrasear o Lula), é tudo real, mas, com certeza, alguns ainda não acordaram e continuam achando que tudo é uma grande conspiração, dos os Estados Unidos, da Europa capitalista e blá, blá, blá.
Por fim, eu e o povo queremos resultados, eu disse, resultados, conversa fiada matou carambola.

Anônimo disse...

Será que esse petista bobo acha que o deputado Chico Alencar estava mentindo?