Fritado em plena via pública

Quando esta edição chegar às ruas, possivelmente o secretário de Saúde será outro, ou seja, a longa estadia de Evaldo Benevides, o “Evaldo da Opção” à frente da Saúde do município terá chegado ao fim. Se isso não ocorrer, será por única e exclusiva culpa das intempéries e dos volúveis humores da política, mas, ainda assim, ele continuará sendo fritado em plena via pública, ou para os mais simplistas, continuará sendo a bola da vez para sair.

Dito isto, me pergunto: o que leva uma pessoa, tida como bem sucedida, com empreendimentos pessoais consideráveis a se agarrar num cargo público como se este fosse a tábua de salvação de um náufrago no meio do oceano. Por muito menos do que isso, repito, por muito menos, dei um bico no cargo de assessor de Comunicação desse governo, depois de uma tentativa de fritura (e olha que na questão financeira, a grana do salário de secretário até que me caia bem), o que não deve ser o caso de Evaldo, que tem um patrimônio umas 200 vezes maior do que o meu)

Birra? Coisas ou negócios que não sabemos? Vaidade? Vai se saber, a alma humana é um poço insondável de desejos ocultos e contradições, entretanto, é deprimente vê-lo, outrora altivo e confiante, a sangrar, uma espécie alma penada, ou fantasma a arrastar corrente por um casarão imaginário.

Mas vamos por partes. Está mais do que na cara de que o prefeito Darci Lermen não favoreceu em nada que a Saúde melhorasse, afinal, ele não é de levar pedra pra cima de morro, entretanto, também é certo de que Evaldo se perdeu porque não é do ramo, não soube eleger prioridades, não se comunicou bem com os profissionais da saúde e não percebeu que o cartão de visitas da secretaria de Saúde é o Hospital Municipal, mais especificamente o setor de Emergência. Dito isto, não adianta dar cursos de humanização para os servidores, dotar a secretaria de computadores em todas as salas, se o cidadão da periferia voltar para casa sem atendimento, ou se ele não encontrar medicamento para pressão na farmácia.

Com a teimosia em permanecer onde não é desejado, Evaldo escureceu sua biografia e deve sair pela porta dos fundos, quando tinha todas as condições de sair com o líder de um partido, de dizer para a população que estava saindo porque tentara de todas as maneiras convencer o prefeito a fazer um bom governo, mas este não lhe dera ouvidos. A partir de agora, não terá condição de conduzir ou participar do processo político de 2012, se insistir, vai prejudicar muito mais do que ajudar, com a agravante de que esvaziará o discurso do seu partido e será um entrave para agregar futuros aliados.

Sempre achei o Evaldo uma pessoa interessante e lamento muito que ele não tenha sabido o momento exato de sair. Por conta disso, ele perdeu o trem que seguia para Paris e hoje é apenas uma pálida figura política.

(Artigo publicado no jornal HOJE - 445 - Coluna do Marcel)