"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A ação dos maus e o silêncio dos bons

Numa democracia, pior do que a ação dos maus é o silêncio conivente dos bons. O que se esperar dos maus? Nada. Os mais são maus e pronto. O que se esperar dos bons? No mínimo que eles sejam uma reserva de dignidade e de indignação, diante das injustiças. Quando isso não acontece, o que de melhor pode acontecer é uma enorme avalanche de trevas.
A verdade é que o primeiro grupo nunca perde um minuto da vida pensando no coletivo, ao contrário, ocupa seu tempo planejando com se servir do coletivo, como se dar bem às custas da maioria e isso inclui as questões políticas e até as pequenas coisas do dia-a-dia, de cunho comportamental, ou que envolvam cidadania.
Tomando por base esse município localizado no sopé da serra, é possível verificar o quanto os interesses comunitários são solenemente jogados na lata do lixo. O sonho de consumo da nova classe média, que se firma a cada dia como a antítese do que ela já representou, é auferir dividendos dos recursos públicos que transbordam generosamente nos contratos, licitações e o que mais existe. Não é de estranhar que uma parcela considerável dessa tem alguma espécie de contrato com o Poder Público; parentes ou aderentes que alugam equipamentos, ou que emprestam seus nomes à empresas abertas com o único e exclusivo fim de vender para a prefeitura em contratos cujo teor deveriam ser investigados por quem de direito.
Criativa e sem dar espaço ao merecimento essa turma preenche quase todas as nomeações, se tornando apaniguados da classe política e nas campanhas eleitorais se jogam de cabeça, se tornando meros cabos eleitorais, não do políticos, mas da manutenção dos seus privilégios.
Já as ditas pessoas de moral ilibada, que pagam impostos sem reclamar, que cumprem os deveres de cidadãos não são tão excelentes assim. Ainda que pareça paradoxal, a leniência característica dos que não querem se envolver, dos que acham que roubalheira no serviço público é apenas assunto da polícia acaba deixando espaço para os aproveitadores.
Sem querer, ou sem perceber, as pessoas de bom caráter acabam fazendo o jogo dos picaretas, que torcem desesperadamente para que estes continuem quietinhos, no seu canto, permitindo assim que as negociatas de gabinetes perdurem para sempre.
Infelizmente, os bons lenientes, já não são tão bons assim, porque vivendo no seu mundinho e acabam se parecendo cada vez mais com os maus, que deixam para o mundo apenas as fezes, ainda assim, porque não podem levar.
(artigo publicado no jornal HOJE, edição 443)

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