Marcel Nogueira
Não foi surpresa para ninguém a vitória do NÃO, aliás, mesmo sem argumentos plausíveis que pudessem impressionar o mais simplório dos inteligentes, a campanha, que utilizou argumentos paupérrimos, explorando apenas o sentimento de perda dos paraenses da zona metropolitana conseguiu o que queria, ou seja, não perder votos na capital e espalhar o medo e a confusão na cabeça do eleitor de pouca instrução das bandas do nordeste paraense.
Deve-se dizer que a luta desde o início já se sabia inglória. O veredito do Superior Tribunal Eleitoral e depois do Supremo, dando o entendimento final que a parte interessada na emancipação era todo estado, reduziu a zero os sonhos dos separatistas de hoje e dos de amanhã. Ora, se a parte contrária deveria ser ouvida, seria correto supor que todo o país deveria ser consultado, afinal, a nação inteira seria parte interessada, já que os recursos para bancar os dois novos estados seriam oriundos do Fundo de Participação dos Estados (FPE), ou seja, o projeto de emancipação afetaria todos os estados.
No final do domingo, milhares de pessoas, enroladas nas bandeiras do NÃO invadiram a Doca de Souza Franco, em Belém. Carreatas cortaram a capital numa comemoração sem hora para terminar, afinal, tinha visto fazer água a pretensão de “uma meia dúzia “ de aventureiros, que tiveram a infeliz ideia de tentar retalhar o Pará.
No auge da alegria quase alucinada nem perceberam que não tinham o que comemorar, ao contrário, assinaram um recibo de desinteligência e fizeram o jogo dos estados sul e sudeste, que se pelam de medo de vê a vantagem politica – que eles chamam de equilíbrio político – pender para outra lado, que não seja o deles.
Na verdade, chegou a ser patético a comemoração, afinal, o que comemoravam? Os índices lastimáveis de qualidade de vida, ganhando apenas de Alagoas? A falta de recursos para pagar o piso estabelecido por lei para os professores, que é R$ 1.187,00? As pessoas que morrem na porta do pronto socorro da 14 de março? Ou por saberem que nada vai mudar, que não haverá “Parazinho zitito”?
Estavam tão envolvidos no fervor cívico de defender a integridade que não perceberam que ser grande não é ter dimensões continentais, ao contrário, Rio de Janeiro é o segundo estado da Federação e tem um território dezenas de vezes menor que o Parazão; estavam tão encharcados de uma euforia sem sentido que não perceberam que a desgraça do Pará é exatamente essa: nada vai mudar. Continuará faltando dinheiro para o saneamento básico de Belém e os índices de violências continuarão subindo.
A d ec ad~encia verificada, seria incompetência dos últimos governadores? Claro que não. Por mais incompetente que eles fossem não haveria mágica capaz de fazer jorrar dinheiro por entre as barcaças do Ver-o-peso. O que falta ao Pará é dinheiro e aí entra o pecado maior da campanha. A mentira dos que defendiam o NÃO, afirmando que o Pará arcaria com a conta da divisão. Mas, assim como há histeria coletiva, há também os pecados coletivos. A maioria da população agradeceu aos céus que alguns idiotas, ávidos em ser candidatos a prefeito de Belém dissessem as invencionices que eles queriam ouvir, porque assim eles dormiriam tranquilos, sem crise de consciência por darem um tiro no pé. No futuro, quando a vaca caminhar literalmente para o brejo e a água chegr à cintura poderão culpar as lideranças “mentirosas e safadas”. nada mais cômodo.
A mentira era tão desprovida de fundamentos que o metropolitano só não viu porque não quis. Era tão obvio que os recursos dos novos estados, assim como os do Pará remanescente eram do Fundo de Participação dos Estados (FPE) que chegou a ulular. Ora, se o FPE, que advém do Imposto de Renda é dividido para 27 estados da Federação a conta seria refeita para 29 e nada mais.
O problema é que o Metropolitano de uma hora para outra descobriu que o “colosso do Norte”, que a cada dia perde em importância para o Amazônas, era bem mais do que Belém e Ananindeua, ou quando muito os balneários e Castanhal. Se perguntar a esses o que é Banach iriam julgar ser nome de remédio ou uma empresa multinacional que explora minério em algum lugar do Parazão. Pois bem, ainda que tenha nome esquisito, Banach é um município, assim como o é Santa Maria das Barreiras, Uruará. Possivelment enunca ouviram falar.
Muito já se falou sobre a oportunidade perdida, mas ele não foi perdida apenas para os de Carajás ou Tapajós. também foi perdida para o Pará e o tempo há de revelar isso.
O Pará deixaria de arrecadar do FPE os habituais R$ 2,9 bi para arrecadar R$ 2,6 bi, uma perda de R$ 300 milhões, mas deixaria de gastar com as duas regiões algo em torno de R$ 1,5 bi por ano. Como se vê, a questão é aritimética, é o dinheiro que está faltando para educação, saúde, segurança e manutenção das estradas.
Por conta de interesses mesquinhos daqueles que condenaram o Pará ao atraso, as três regiões continuarão morrendo abraçadas, unidas por um ato jurídico e separadas por um abismo de identidade, de estilo de vida e até de cultura.
Ainda que o plebiscito tenha dito o contrário, é mais do que certo que Carajás e Tapajós estarão espiritualmente separados do Pará, agora bem mais do que antes e as próximas eleições vão confirmar isso. Aliás, a bem da verdade, as urnas do referendo também disseram isso e basta ver a média de 95% dos votos válidos a favor da divisão. A maioria esmagadora querendo a divisão fez ruir a teoria que era uma ‘‘meia dúzia de aventureiros’’ que queriam o desmembramento.
A propósito, não se sabe de ninguém do Goiás remanescente que tenha classificado o estado de “Goiazinho”, por ocasião do desmembramento com o Tocantins. Talvez por isso, por ter uma visão bem mais avançada, o Goiás, que era o 17º estado da Federação na época do desmembramento é hoje o nono estado da Federação, milhas e milhas adiante do Pará. O tocantins, tido como uma terra miserável também está bem a frente do Pará e apresenta índices aceitáveis de desenvolvimento humano.
O Pará precisa urgentemente saber o que quer da vida e parar de querer usurpar uma riqueza que não é sua. Não se deve esquecer que o subsolo é da União. Trocando em miúdos, Carajás, as minas de Porto Trombetas são da União. Taxar exploração do minério é jogar pra galera. Se fosse possível Minas Gerais não teriam feito isso antes? Tentaram, mas perderam na Justiça.
O resultado do plebiscito que trouxe a histeria coletiva, também vai apresentar a conta, que por sinal será salgada. Afinal, se querem o imenso território para chamar de seu, supõe-se que tenham condições de cuidar. É isso que Carajás e Tapajós vão exigir. Nada mais do que isso.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
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