Josias de Souza
Pouca gente entendeu a presença de Erenice Guerra na cerimônia de posse da amiga e ex-chefe Dilma Rousseff.
Erenice desfilou, faceira, pelos salões do Planalto. Deu as caras também no coquetel oferecido a autoridades estrangeiras no Itamaraty.
A explicação para a desenvoltura da ex-titular da Casa Civil encontra-se nas folhas do relatório da sindicância que "investigou" o Erenicegate.
O papelório foi repassado por Carlos Eduardo Esteves, sucessor de Erenice na Casa Civil, para Antonio Palocci, novo titular da poltrona.
Com base nas conclusões da “sindicância”, Esteves decidiu não punir ninguém.
Erenice nem chegou a ser investigada. A comissão alegou que não tinha poderes para tanto.
Foram supostamente esquadrinhadas as ações de dois ex-auxiliares da ex-ministra: Vinicius Castro e Stevan Knezevic.
Ambos foram acusados de operar como braços funcionais de um esquema de tráfico de influência urdido pelo filho de Erenice, Israel Guerra.
A exemplo de Erenice, afastada depois que os malfeitos escalaram as manchetes, Vinícios e Stevan também deixaram o Planalto.
Saíram em meio à campanha presidencial, para atenuar os efeitos da encrenca sobre a campanha de Dilma.
Vinícios foi ao olho da rua. Stevan foi devolvido ao seu órgão de origem, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Em relação ao primeiro, a Casa Civil informa que nada foi comprovado. Quanto ao segundo, decidiu-se passar o abacaxi adiante.
Cópia do relatório de “sindicância” será enviado ao Ministério da Defesa, de cujo organograma pende a Anac.
Caberá a Nelson Jobim, titular do ministério, decidir, à luz do documento, se o subrodinado Stevan merece ser punido.
Curiosamente, Stevan não foi sequer ouvido pelos membros da comissão que o “investigou”.
Alegou-se que, como funcionário de outra repartição, ele dispunha da prerrogativa de não depor na Casa Civil.
Cópia do relatório será remetida também à Comissão de Ética Pública da Presidência.
No mais, os responsáveis pela “sindicância” recomendaram a abertura de
um processo administrativo disciplinar.
Para quê? O objetivo seria o de apurar convênio firmado em fevereiro de 2005, época em que chefiava a Casa Civil o companheiro José Dirceu.
Chama-se Unicel a empresa beneficiária do convênio. A coisa pipocou no calor do Erenicegate, como subproduto do escândalo.
Envolve um personagem chamado José Roberto Camargo Campos, marido de Erenice e ex-diretor da Unicel.
Foi acusado de agenciar autorização da Anatel para que a Unicel pudesse operar no mercado da telefonia móvel via rádio.
Caberá a Palocci decidir se abre ou não o processo administrativo.
Afora a "sindicância" de desfecho melancólico, o Erenicegate continua sob investigação da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União.
A julgar pela desenvoltura com que Erenice cumprimentou Dilma na solenidade de troca de comando, nada parece fadado a ir muito longe.
Na fase final da campanha, Dilma dissera, num debate televisivo, que estava “indignada” com os episódios que explodiram ao redor de Erenice.
No discurso inaugural que pronunciou no Congresso antes de abraçar Erenice no Planalto, a nova presidente disse que não contemporizará com a corrupção.
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