"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


sábado, 20 de agosto de 2011

Obrigação do Poder Público é planejar o futuro

Projetos, que se habilita a falar em projetos? Pra começar, não há o menor interesse dos que detém o poder, em parte porque tocar projetos é desgastante e dá trabalho. Melhor passar o cartão todo dia 10 e 20 e verificar se o dinheiro dos royalties já caiu na conta.

Por mais simplório (e lamentável) que possa ser, essa tem sido a rotina dos nossos governantes nos últimos 16 anos. Administram folhas de pagamento e tentam resolver problemas pontuais. Muito pouco para uma cidade que se apresenta como metrópole regional.

Entendo que uma das atribuições de um governo é planejar o futuro, preparar a cidade para daqui há 10, 20 anos. Caso esse dever de casa seja negligenciado, não restará nada mais do que o acaso e convenhamos, é o pior cenário, uma irresponsabilidade quase criminosa.

O caso dos novos loteamentos é emblemático. Eles expandiram as fronteiras do perímetro urbano para 15 quilômetros além dos limites do bairro Novo Brasil. Assim como suas avenidas, os novos bairros também dão largas às novas perspectivas de uma modernidade que bate à porta. À primeira vista, parece algo grandioso (e de fato é), entretanto, a essa imponente demonstração de investimentos privados, que acreditam no potencial da cidade, some-se o enorme sacrifício de uma parcela da população, que mal se sustenta em pé foi empurrada a adquirir imóveis para quitação em 180 meses, ou 15 anos.

Sob contratos draconianos, nos quais se escondem alguns poucos direitos e uma grande soma de deveres, os hoje felizes proprietários adquiriam uma espécie de bomba-relógio, com data certa para explodir. Juros de agiota e a possibilidade de perder o pequeno investimento, caso haja atraso de três meses ou um pouco mais acabam sendo uma sentença sobre as cabeças dos cidadãos de Parauapebas. Cá pra nós ficar três, quatro meses desempregado é algo recorrente na vida de uma trabalhador que ganha pouco mais de salário mínimo.

A pergunta é a seguinte: se o Poder Público sabia que haveria uma explosão imobiliária por que não se antecipou e adquiriu áreas no entorno da cidade e fez uma ampla distribuição de terrenos, a serem construídos em regime de mutirão? Por que não criou cooperativas de tijolos, telhas, o que baratearia os custos? Resposta: Porque tudo isso é muito trabalhoso. Melhor abrir espaços para os atravessadores ganharem fortunas e se der, entrar como sócio num desses empreendimentos e tirar o seu.

Governo que é governo tem essas obrigações. A ele é vedado o direito de entregar numa bandeja o destino de seus munícipes, como ocorreu nos últimos dois governos.

(Artigo publicado no jornal HOJE - Coluna do Marcel)

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