O dia 16 de agosto será lembrado como um dos dias mais negros da história da educação de Parauapebas. Neste dia, por volta de 11 horas da manhã, no Salão Verde do Palácio da Planalto, a presidente Dilma Rousseff anunciou a criação da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA) com cinco campus, tendo como pólo central a cidade Marabá. Indicada como um dos pólos da nova universidade, Parauapebas teve seu nome retirado e a comunidade estudantil ficou sem a sonhada universidade federal.
Conforme o projeto elaborado por um Grupo de Trabalho, composto por técnicos da Universidade Federal do Pará (UFPA), que trabalhou intensivamente desde 2010, numa proposta para ser apresentada ao Ministério da Educação (MEC), os quatro pólos da universidade seriam Marabá, Parauapebas, Xinguara e Rondon do Pará. Participaram ainda do Grupo de Trabalho Fernando Michelot, representando Marabá; Hildete Santos, Xinguara e Leonidas Mendes, Parauapebas.
Segundo informações, o pólo de Parauapebas seria implantado em 2012, como oito cursos, com a projeção de que em 2015, 19 cursos estariam instalados, inclusive com a possibilidade que o núcleo de Ciências Biológicas viesse para Parauapebas, incluindo o curso de Medicina.
No dia 28 de abril desse ano, foi protocolada a entrega do projeto no MEC, em Brasília. Na ocasião o ministro Fernando Hadad afirmou ser amplamente favorável a implantação da UNIFESSPA, como forma de ampliar a oferta de cursos superiores no país. Registre-se que a presidente Dilma Rousseff havia prometido a implantação da universidade na região, por ocasião de sua visita em Marabá.
Depois de receber o projeto, a Secretaria Executiva de Ensino Superior do Ministério da Educação exarou parecer favorável à nova universidade e a localização dos quatro campus.
Frustação
No último dia 16, cinco vereadores, mais o prefeito Darci Lermen e o secretário municipal de Educação, Raimundo Neto viram a presidente assinar a implantação da UNIFESSPA e o descarte da possibilidade de Parauapebas ter o seu campus. Em seu lugar, dois novos campus: São Félix do Xingu e Santana do Araguaia.
Segundo informações não confirmadas, O MEC teria retirado Parauapebas do projeto porque o município contaria com uma universidade Federal, a UFRA.
A decisão do MEC pegou a comitiva de surpresa, já que os dois municípios contemplados (São Félix e Santana) não tinham apresentado proposta, ou participado da elaboração do projeto.
Reflexões
Ainda que não seja o momento de uma campanha de caças às bruxas, algumas reflexões são necessárias. Nesse momento fica a constatação de que o município escreve sua história com derrotas. Por falta de representação política, por desinteresse, irresponsabilidade mesmo, muitos investimentos públicos e privados, que eram dados como certos desaparecem e migram para outras localidades. Esse tipo de episódio acaba influenciando na autoestima de um povo e criando uma mentalidade perdedora, principalmente na nova geração.
Uma breve retrospectiva revela que Parauapebas perdeu a siderúrgica para Marabá sem ao menos lutar. Um investimento de bilhões de dólares e mais de 16 mil empregos diretos e indiretos foi para o município vizinho, quando todas as possibilidades técnicas apontavam para Parauapebas. Nos próximos anos, a cidade assistirá uma migração de investimento para Marabá, que terá a siderúrgica, cujos fornos serão alimentados com o ferro de Carajás.
Com o dinheiro público a coisa também não é diferente. Na final do ano passado havia recursos federal na ordem de R$ 47 milhões, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o município. O dinheiro seria aplicado em obras de infra-estrutura no Complexo Altamira e pavimentação na cidade. Por conta de trâmites burocráticos, que poderiam ser resolvidos com uma simples certidão do Tribunal de Contas (TCM), o município deixou o dinheiro retornar. Tem ainda o episódio da Praça da Juventude, no bairro da Paz, cujos recursos, na ordem de R$ 1,7 milhões, provenientes de uma emenda parlamentar da então deputada Bel Mesquita que o município não se interessou e nem chegou a apresentar um projeto. Hoje o local é apenas um depósito de lixo e desova de animais mortos.
Em todos os casos fica claro a omissão do governo municipal e a desastrosa administração do prefeito Darci Lermen. Esse seria o caso de uma pessoa está no local errado, na hora errada. No caso de Lermen, infelizmente (para o município) ele é o mandatário da cidade, num momento em que as oportunidades aparecem e ele as joga fora.
Quando houve a reunião em Brasília para discutir a localização da siderúrgica, o staff de Marabá (prefeito, vereadores, secretários municipais, empresários e jornalistas) estava lá, numa vigília cívica em prol dos interesses do município vizinho. Não há registro de uma única autoridade de Parauapebas. Nem o prefeito Lermen, nem vereadores, nem mesmo a então deputada federal da época, Bel Mesquita. Diante do tamanho desinteresse, estava na cara que a siderúrgica iria mesmo para Marabá.
Na perda dos R$ 47 milhões do PAC o prefeito transferiu a responsabilidade do fracasso para Câmara, ao divulgar que havia contas de antigos presidentes do Legislativo pendentes no TCM. O prefeito só esqueceu de avisar que as referidas contas ainda não tinham sido apreciadas pelo TCM, portanto bastaria uma certidão negativa provisória para liberar o dinheiro. Na verdade, por causa da fartura de recursos oriundos de outros tributos, a prefeitura de Parauapebas jamais gostou de dinheiro federal e costuma desdenhar desses recursos pela simples razão de que esses recursos são auditados pela Controladoria Geral da União e pela Polícia Federal.
Ausência
Apenas para registrar, no dia 28 de abril, por ocasião do protocolo do projeto da UNIFESSPA, o prefeito de Marabá, Maurino Magalhões, acompanhado de cinco vereadores e 10 secretários municipais se fazia presente em Brasília. Por parte de Xinguara, o prefeito Davi Passos, juntamente com seu staff de 40 pessoas também estava na capital federal. Representando Parauapebas, apenas o professor Leonidas Mendes. Leonidas não confirma, mas consta que ele, para justificar o injustificável, precisou dizer que o prefeito estava enfermo e por isso, não pôde participar do evento.
Verdade ou mito, a ausência do prefeito no momento crucial, no qual o destino de milhares de estudantes estava sendo traçado deixou a posição de Parauapebas muito fragilizada.
Nesse momento, um tecnocrata do MEC, ou um político interessado em fortalecer suas bases eleitorais em Santana ou São Félix pode ter chegado a conclusão de que poderia mexer no jogo e substituir o nome de Parauapebas por outro município, o que não aconteceria com Marabá, por exemplo.
Ele deve ter imaginado que ninguém em Parauapebas daria falta, ou se importaria muito. Infelizmente, o tecnocrata do MEC, ou o político interessado em solidificar suas bases estava coberto de razão.
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