"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cronista de temas gerais

Por formação, sou um jornalista e como tal tenho como atribuição a responsabilidade de transmitir informações o mais próximo possível da verdade, mas, isso é a minha atividade profissional, na essência sou uma mero contador de histórias, ou um cronista do cotidiano, que gosta de abordar temas gerais e se divertir com passagens da vida provinciana. Não é a toa que das mais de 800 crônicas publicadas, as que mais agradaram foram das crônicas de amenidades, ou “causos” como os da velha gorda, do Mário filosofo e passagens pitorescas.

Infelizmente, por dever de ofício, nem sempre é possível trabalhar esses aspectos. A política, com suas tiradas cavernosas e suas nuances obscenas não tem deixado e cá pra nós, não há nada mais chato do que informações repetitivas de política, quando a população gostaria de falar de qualquer coisa, menos de política.

Infelizmente (ou felizmente), para o bem ou para o mal, todos as transformações da sociedade passam pela questão política, de modo que o dever quase sacerdotal do cronista é se inserir nesse imenso contexto, muitas vezes relegando a segundo plano outros assuntos.

Na semana passada, numa das infindáveis rodas de bate-papo e que acabou varando a noite, enquanto um amigo cobrava artigos mais espirituosos, “como os que você escrevia há cinco, seis anos atrás”, um outro, à guisa de justificativa dizia que a política limitava a criatividade do jornalista.

Devo dizer que os dois tinham razão. Jornalista - principalmente aqueles que colocam seu ponto de vista à apreciação do leitor - é que nem jogador de futebol, tem suas fases positivas e outras pouco favoráveis. Já sobre o argumento de que a política funcionava como um elemento limitador, também concordo, entretanto, há fatores a serem considerados. Parauapebas dos anos 80 e da primeira metade dos anos 90 era completamente diferente do ensaio de metrópole que se propõe hoje. A do passado tinha tempo para colocar as cadeiras de macarrão na calçada e jogar um pouco de conversa fora no final da tarde. Nessas reuniões sociais surgiam pérolas como as histórias do tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça, peripécias da velha gorda e por aí ia. Hoje em dia, não há espaço para nada disso e quem quiser dá mole à boca da noite corre o sério risco de ser assaltado. O corre-corre do dia-a-dia e as infindáveis trocas de turnos talvez sejam os maiores adversários ao retorno da vida sossegada e culturalmente rica das décadas anteriores.

O consolo é que a vida e as manifestações populares sempre dão um jeito de se reinventar, de continuar, mesmo que sejam aos trancos e barrancos. Portanto, meu velho e bom amigo, as crônicas espirituosas, as charges e as resenhas repletas de humor estão garantidas.


(artigo publicado no jornal HOJE, 426 - Coluna do Marcel)

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