Fernando de Barros e Silca - Folha de São Pauloi
"O PT deve repelir com firmeza as manobras da mídia conservadora e da oposição de promover uma espécie de criminalização generalizada da base de sustentação do governo." Este é um trecho do documento que norteia as discussões do 4º Congresso do PT.
De forma previsível, o partido voltou à carga. Como no caso do mensalão, há de novo a tentativa de transformar o governo e o PT em vítimas de uma "conspiração midiática", como se aquilo que o procurador-geral da República chamou de quadrilha fosse uma ficção da mídia, como se a chamada criminalização da base aliada não fosse fruto da ação de seus membros.
Ao insistir na tecla da criminalização da aliança, o PT, na verdade, está politizando seus crimes a fim de descaracterizá-los. O discurso da desculpabilização funciona como imagem invertida da realidade.
Esse cinismo militante dá a tônica da ação dos petistas (há exceções) desde que chegaram ao poder. Era preferível quando Lula, mesmo correndo o risco de cometer injustiças, dizia que o Congresso tinha 300 picaretas com anel de doutor. Há novos picaretas na política. Nem todos têm anel de doutor.
A revista "Veja" se especializou em fazer catecismo raivoso de direita, é fato. Não sei em que condições foi produzida a reportagem sobre a romaria de políticos ao quarto de hotel de José Dirceu, em Brasília, mas as imagens são boas e têm óbvio interesse público.
O que leva o presidente da Petrobras - a maior estatal brasileira, com acionistas ao redor do mundo - a visitar Dirceu na moita, às 15h30 de uma segunda-feira? Sergio Gabrielli ficou no quarto com Dirceu por 30 minutos.
O mesmo aconteceu com Fernando Pimentel, ministro de Estado, dois dias depois.
Numa República, o normal seria que essas duas autoridades, durante seu expediente, recebessem Dirceu em seus locais de trabalho, não que fossem encontrá-lo num muquifo. Ou serei acusado de promover aqui a criminalização de amizades singelas?
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