"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


sábado, 1 de maio de 2010

Se ficar é conivente

Nesta semana o PPS e o PV divulgaram uma carta aberta à população de Parauapebas, na qual os dois partidos apontam distorções da atual administração e colocam os respectivos cargos à disposição do prefeito Darci Lermen.

Deve-se dizer duas coisas. A primeira é que os dois partidos fazem parte da base governista e ocupam cargos importantes na administração. Domires Reis, do PV é secretário do Meio Ambiente e Cláudio Feitosa, do PPS é titular da pasta da Cultura. Segundo, a insatisfação externada na dita carta não privilégio ou exclusividade do PPS e PV; existem outros partidos que fazem parte da aliança que deu o segundo mandato a Darci completamente fora da sintonia oficial e que também desejam respirar outros ares. Esses fatos são paradoxais, uma vez que estamos vivendo o 17º mês do segundo mandato, restando ainda mais de dois anos para finalizar a era Darci (o que para a população é catastrófico, mas a o mesmo tempo merecido,
já que a tragédia estava anunciada previamente e só não viu quem não quis).

Sair mesmo, por enquanto ninguém saiu; a carta aberta apenas coloca os cargos à disposição do prefeito e aí depende dele, Darci, tomar a iniciativa de demitir ou não. Conhecendo essa administração, esse prefeito, é mais do que provável que ele não tome atitude nenhuma e fique o dito pelo não dito e todos vivam em paz no reino de Avilã.

Na minha modestíssima opinião, o que os dois partidos em questão deveriam fazer era apresentar a carta de demissão, em caráter irrevogável, não só eles, mas os outros que estão na base e querem alçar um vôo solo. Assim eles dariam um recado claro à sociedade que estiveram no governo, mas perceberam a tempo a barca furada e cantaram pra subir . Agora que a atitude é digna dos melhores elogios é, mas, a tentativa de redirecionar uma administração que cai pelas tabelas chega tarde. Nessa altura do campeonato, da vaca atolada no brejo, não sobram nem os chifres. É aquela velha história que todo mundo conhece de cor e salteado: pau que nasce torto até a cinza é torta. Esse governo não tem jeito porque sua essência, o núcleo, a espinha dorsal é ruim e enquanto ela estiver no comando, a gente só vai ouvir falar de bandalheira, de negócios escusos e jogadinhas ensaiadas.

Imagino a impotência de alguns partidos que não gostariam de ver o circo pegar fogo. Não tem jeito. Não se faz omelete sem quebrar ovos. Se ficar é conivente e não vai ter como se justificar diante de uma sociedade que acordou finalmente.

2 comentários:

Eldan de Lima Nato disse...

Caríssimo Marcel, esse negócio de secretário "colocar o cargo à disposição do prefeito" é só cena. Afinal, esses cargos não estão SEMPRE à disposição do prefeito? Não é o prefeito que escolhe sua equipe e tira quem ele entende que precisa sair, quando e como?
Pelo menos é assim que deveria ser, mas como Parauapebas e o governo atual é um caso à parte, até neste sentido, fica difícil saber até que ponto os cargos estão mesmo à disposição do prefeito.
Mas, é evidente que os partidos em questão o fizeram muito mais para dar o seu recado, ao prefeito e à população. O recado é o seguinte: "queremos contribuir com o governo, mas entendemos que é do prefeito a decisão de criar e mudar a sua equipe".
Agora que o recado está dado acredito que vai ficar tudo por isso mesmo, afinal eles não tem interesse em sair do governo, se o tivessem teriam saído de vez e não apenas "deixado o cargo à disposição".
É uma pena que secretarias ineficientes e que estão muito mal avaliadas popularmente (como o governo também está), não tenham tido a mesma atitude que tiveram os secretários do PV e PPS. Pelo contrário, por meio de ingerência indevida da Câmara - o que seria um escândalo em qualquer lugar - determinado secretário continua no governo. No entanto, não se ouviu um piu da Câmara - pelo menos na mídia não há notícia de reação do legislativo - sobre a nota conjunta do PV e do PPS. Este último com uma secretaria atuante e com bons índices de aprovação, conforme a geral. Então fica assim: alguns vereadores pressionam a prefeitura para manter secretário que não trabalha e calam-se quando quem está atuante "pede pra sair". Está tudo errado ou é o meu ponto de vista que não está enxergando direito?

cláudio feitosa disse...

Caro Marcel,

A posicao do PPS e do PV é muito clara, basta ler. Alguns estäo fazendo interpretacöes equivocadas. Essas pessoas se dividem em duas categorias: a primeira é daqueles que tem dificuldades de interpretar um texto. O Ministério da Educacäo diz que esse é um dos mais graves problemas da educacäo formal. A estes perdoamos, é claro! Há a segunda categoria, que faz a interpretacäo que lhe convém, normalmente com a intencäo de colocar gasolina na fogueira.
Sei que vc näo se encaixa nas duas categorias, mas gostaria de fazer um esclarecimento.

1) Há em dois tópicos da carta aberta manifestacöes claras que acreditamos que é possível gestar no governo uma mudanca de rumo. No último tópico diz: "continuamos acreditando na lideranca do prefeito Darci..." Ora, quem quer romper, pedir exoneracäo, näo diz isso. O que queremos é provocar o debate. Nós achamos que os problemas apontados - que säo notórios e caminham em escala crescente de gravidade - precisam ser discutidos publicamente, isto pelo simples fato de que a política é coisa pública, e todos nós que ocupamos cargos na administracäo temos que estar dispostos a enfrentar o debate franco, aberto e publicamente.

Na tradicäo política, quando um partido diz que coloca o cargo à disposicäo do gestor isso significa uma manifestacäo de boa vontade. É a reafirmacäo de que os cargos säo fruto de delegacäo, e que o prefeito deve ficar à vontade para efetivar as mudancas que achar convenientes.
Nós - PPS e PV - achamos que devem haver mudancas na administracäo, e näo seria justo defender isso e ao mesmo tempo supor que só os nossos cargos é que näo poderiam ser mudados, substituídos ou mesmos retirados.
Tenho recebido algumas manifestacöes de apoio à iniciativa, e, lógico, há quem discorde (mesmo no meu partido). Isso é natural. De sete membros da executiva do PPS, cinco apoiam a carta.
O documento tinha a funcäo precípua de iniciar um debate. Acho que conseguimos.

Um abraco fraterno

cláudio feitosa